sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

JUSTIÇA IRANIANA ENFORCA MULHER QUE ASSASSINOU POR AMOR

Condenada disse várias vezes que a confissão foi obtida sob tortura. Irão já executou 146 pessoas durante este ano.

Eram cinco da manhã em Teerão quando Khadijeh Shahla Jahed, de 40 anos, foi enforcada numa prisão da cidade pelo crime de homicídio da mulher do antigo futebolista Nasser Mohammad Khani, um dos mais populares deste desporto no Irão.

Jahed manteve uma especial forma de relação autorizada pelo islão xiita - o casamento temporário ou mut'a, em árabe - com Mohammad Khani, estrela do futebol iraniano na década de 80 e, mais tarde, treinador do Persépolis. Foi durante o período de vigência do mut'a, em 2002, que Jahed terá morto Laleh Saharkhizan, a mulher do futebolista, a golpes de arma branca.

Os media iranianos escreviam ontem que representantes do tribunal mantiveram, pouco antes da execução, negociações com a família da vítima na tentativa de obterem perdão para Jahed. O que não sucedeu.

De acordo com o princípio da reciprocidade absoluta de crime e pena, reconhecido no direito islâmico, a família da vítima negou o perdão e foi o filho de Saharkhizan que executou a sentença ao afastar o banco dos pés de Jahed.

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Mohammad Khani esteve também presente na execução
Inicialmente, foi aventado o envolvimento de Khani, que na época vivia exclusivamente com Jahed; o futebolista esteve preso alguns meses, pendendo sobre ele acusações de co-autoria moral e material no homicídio. Acabou por ser ilibado quando Shahla admitiu o crime.

Julgada e condenada à morte em 2004, Shahla Jahed viu a sentença suspensa até à confirmação final em Fevereiro de 2009.

Nas sessões públicas do julgamento, Jahed disse ter sido forçada a admitir o crime, e que esta confissão fora obtida sob tortura.

Os desenvolvimentos do caso foram alvo de ampla atenção mediática no Irão, recordavam ontem as agências, atendendo à dimensão passional e ao carácter específica da relação entre Shahla Jahed e Khani.

A relação do futebolista é reconhecida pelo islão xiita como forma de casamento provisório, a termo fixo mas renovável. Segundo os exegetas, que parafraseiam Maomé na matéria, se devidamente observada, previne a maioria dos problemas surgidos das relações sexuais ilegais.

O mut'a é regulado no capítulo IV (surah, em árabe), versículo 24 do Alcorão. Este versículo estabelece a obrigatoriedade de dote no mut'a, a legitimidade da "dupla atracção", interditando o casamento a termo apenas às mulheres casadas.

O mut'a é, assim, apenas autorizado aos homens, a quem é reconhecido o direito de terem até quatro mulheres, além das situações de casamento temporário.

A situação de Jahed recorda a de Sakinek Ashtiani, condenada à morte por lapidação, sob acusação de adultério, mas cuja sentença foi suspensa após uma vasta campanha internacional a seu favor. O que não significa que não venha a ser executada, provavelmente por enforcamento.

Este ano foram executadas 146 pessoas no Irão, segundo dados da AFP. O país aplica a pena de morte em casos de homicídio, violação, tráfico de droga, assalto à mão armada e adultério.

Abel Coelho de Morais, aqui