domingo, 5 de dezembro de 2010

HISTÓRICOS APELAM A NOVA AD

Tragédia de Camarate junta Pedro Passos Coelho e Paulo Portas. Trinta anos depois 'sonha-se' com AD.

Trinta anos depois de Camarate, o que Pedro Passos Coelho e Paulo Portas gerem ainda com cautelas e pinças políticas os militantes mais ou menos históricos já exigem: uma nova AD.

António Capucho, marcante secretário-geral do PSD dos primeiros anos, foi o mais incisivo: "É urgente substituir este Governo. É obrigação moral, ética e política o PSD e o CDS entenderem-se num governo de salvação nacional."

Pouco antes José Luís Vilaça, figura incontornável da fundação do CDS, tinha dito o mesmo, ainda que de forma mais emocional: "Sou um velho militante da AD e só acredito numa solução deste tipo para Portugal." Foi mais longe e disse que " Portugal precisa de uma nova ruptura, uma ruptura à Sá Carneiro, à Amaro da Costa".

Ontem os apelos à reconstituição da Aliança Democrática foram o pano de fundo da cerimónia da Universidade Católica onde se evocou a memória de Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa - uma organização conjunta do CDS e do PSD, que foi o culminar de uma colaboração entre o IDL e o IFSC, que possibilitou a produção do documentário Se o Avião Tivesse Chegado ao Porto.

A questão da AD tinha, apesar de tudo, sido abordada à chegada pelo líder do PSD que considerou "que um futuro governo de mudança precisa de mais do que a a legitimidade eleitoral de um só partido".

"Já uma vez o referi e reafirmo aqui que a situação que o País vive exige hoje um esforço de todos os portugueses. E se um futuro governo vier a ser constituído na sequência de umas eleições, que precise de ir buscar um pouco dessa força de todos os portugueses para acentuar um caminho de mudança que precisamos de fazer, esse governo precisa de mais do que a legitimidade eleitoral de um só partido", declarou Pedro Passos Coelho.

Também Paulo Portas tinha respondido antes sobre o mesmo tema. "O CDS e o PSD são partidos diferentes, têm valores diferentes, têm políticas diferentes, têm atitudes diferentes, mas há capacidade de diálogo entre estes dois partidos. O mesmo parece-me que não acontece, por exemplo, entre o PS, o PCP e o BE. Os portugueses têm consciência dessa diferença e ela é relevante para a procura de soluções para o País", disse o líder dos populares.

Paulo Portas fez questão de deixar claro que Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa foram "dois portugueses invulgares" e assumiu que foi o carisma do líder histórico do PSD que o fez "interessar-se por política e, muito possivelmente, por ser hoje político".

Ainda antes da sessão na Universidade Católica, Passos Coelho e Portas tinham estado na Basílica da Estrela para - em bancos diferentes - assistirem a uma missa em memória dos sete tripulantes que perderam a vida em Camarate há 30 anos.

No reencontro à porta do auditório Cardeal Medeiros na Católica a entrada conjunta foi saudada por Passos Coelho por uma espontânea e efusiva palmada nas costa e um sonoro 'Paulo!'. A sala que os viu entrar estava , como se pressentia , "rendida" à urgência de uma reedição da AD.

Agora inevitável é a questão de se saber se este entendimento deve ser prévio numa coligação que apresente já os dois partidos aos eleitores (sendo certo que neste caso poderá ainda ser alargada ao PPM que fazia parte do figurino inicial ) ou optar-se por ir a votos e encontrar-se posteriormente uma solução de governo.

Para já nem os líderes do PSD nem do CDS estão inclinados a falar nisso. Mas como que a dar consistência à tese de que a história se repete, António Capucho já ontem tomou uma posição. O actual conselheiro de Estado e autarca de Cascais recordou que depois de Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa terem decidido numa fase inicial levar os partidos separados a votos, se entendeu que o método de Hondt devia ser aproveitado em pleno.

Recordou que por acção directa de Amaro da Costa se concorreu em AD às legislativas de 1979 , tendo-se obtido uma maioria por cinco deputados, depois aumentada em 1980.

Eva Cabral, aqui