sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

'CONTRA INFORMAÇÃO' FOI DESPEDIR-SE AO PARLAMENTO

Acabou ontem o único programa de sátira política que passava na TV portuguesa. Três bonecos foram dizer adeus aos deputados.

Acabou ontem o único programa português de sátira política na televisão, o Contra-Informação, que passava há 15 anos consecutivos na RTP.

Para efeito de uma reportagem do Expresso, três dos seus bonecos, Francisco "Trotskã", "Cassete" Jerónimo e Paulo "Tortas" foram ao Parlamento, "conversar" com as suas contrapartes de carnes e osso, respectivamente Francisco Louçã (líder do BE), Jerónimo de Sousa (líder do PCP) e Paulo Portas (líder do CDS-PP). Uma visita discreta, que a grande maioria dos deputados ignorou, visto que os bonecos passearam pelos corredores envolvidos em sacos de plástico.

Francisco Louçã foi o primeiro a ser visitado e revelou já ter em sua casa uma primeira versão do seu boneco. Disse que as crianças pequenas que o vêem ficam algo assustadas, talvez porque entre o boneco e a figura real não há afinal grandes diferenças.

A conversa entre "Trotskã" e Louçã foi à porta fechada. Mas já há vários dias que Louçã tinha escrito na sua página no Facebook o que pensava do fim do Contra-Informação. "Lamento-o muito." Porque - explicou - "o Contra-Informação era humorístico, era sarcástico, era muitas vezes cruel", mas "se não nos rirmos de nós próprios - num país em que a crítica foi sempre traduzida em anedotas - então dificilmente nos percebemos".

Louçã reflectiu sobre a agonia do programa nos últimos anos, dizendo que quase deixou de o ver porque "deixou de ter horário regular (era todos os dias, antes do telejornal, sabíamos quando o podíamos ver) e portanto tornou-se uma aventura encontrá-lo".

Seja como for, "foi-se mantendo, com personagens novos e velhos, sempre em redor das nossas tristezas e alegrias". E agora que termina, ainda para mais "com os Gato Fedorento calados, não fica nada para nos rirmos da crise". "Fica só a crise?", interrogou-se.

A notícia de que o Contra-Informação poderia estar para fechar foi avançada a 19 de Novembro passado, pelo DN. Os guiões do programa estão a cargo, como sempre estiveram, das Produções Fictícias (PF).

Rui Cardoso Martins, um dos guionistas (e com Nuno Artur Silva e José de Pina membro do trio fundador do programa e das PF), dizia então que tudo dependia de uma reunião com a RTP: "Não sei o que vai acontecer, mas queria saber. Nós, os autores, vamos continuar a fazer o melhor programa que sabemos, com o nosso espírito de intervenção social e política. A decisão não é nossa."

Mafalda Mendes de Almeida, da produtora Mandala, parecia estar convencida de que não estaria em causa a sua continuidade: "Não tenho qualquer indicação no sentido de não haver uma renovação do formato."

Mas a RTP decidiu mesmo tirar o programa da antena. José Fragoso, director de Programação, explicou-se: "Os programas têm um princípio e um fim." Produtores e guionistas vão agora pensar no que fazer. As notícias da morte do Contra-Informação poderão ser algo exageradas.

João Pedro Henriques, aqui