quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

CENTROS DE SAÚDE DEIXAM JOVENS SEM PÍLULA DO DIA SEGUINTE

Associação de Defesa do Consumidor critica recepção das jovens nas unidades de saúde e falta de aconselhamento nas farmácias.

Metade dos centros de saúde e unidades de saúde familiar (USF) trava o acesso das adolescentes às consultas onde é dada a pílula do dia seguinte, que permite evitar a gravidez até 72 horas depois de uma relação sexual desprotegida, revela um estudo da Associação de Defesa do Consumidor (Deco).

Das 35 unidades visitadas por jovens dos 14 aos 18 anos, metade barrou o acesso à consulta, por as raparigas não serem da área geográfica da unidade de saúde. A Direcção-Geral da Saúde, responsável pela aplicação da lei, não quer fazer comentários.

Para Teresa Rodrigues, coordenadora do estudo da Deco, "o objectivo era perceber se a lei da contracepção de emergência estava a ser cumprida ou não". O estudo, realizado para a revista Teste Saúde, baseava-se na tentativa de aceder à consulta de contracepção de emergência e à compra nas farmácia, percebendo "se as jovens e adolescentes recebiam os conselhos adequados e eram orientadas para a consulta de planeamento familiar", salienta a coordenadora.

Segundo Teresa Rodrigues, "as jovens pediam para serem atendidas no centro de saúde que não era da sua área geográfica alegando ter vergonha ou receio de ser reconhecida por alguém no centro de saúde em que estão inscritas".

Porém, diz Teresa Rodrigues, em 17 dos 35 centros de saúde e USF visitados, as jovens "foram travadas logo na recepção, por não pertencerem àquela unidade de saúde". Mais grave é o que sucedeu no Centro de Atendimento a Jovens das Janelas Verdes, em Leiria, onde a consulta foi marcada para dois meses depois.

"Ficámos surpreendidos com os resultados porque já tínhamos feito um estudo similar em 2003, e o que verificámos é que sete anos depois as coisas melhoraram, mas pouco", admite Teresa Rodrigues, que sublinha que o problema não está nos médicos nem nos enfermeiros, mas nos funcionários que estão na recepção das unidades de saúde. "Após ultrapassada a barreira da recepção, o atendimento na consulta foi muito bom", salienta a coordenadora do estudo.

Uma das explicações estará "na falta de informação dos funcionários e num desconhecimento de que a lei obriga a que as jovens sejam atendidas, mesmo que não seja no centro de saúde em que estão inscritas". Por isso, frisa, "é preciso melhorar a informação, explicar que as jovens têm de ser atendidas", acrescenta.

Apreensão causa também a avaliação às farmácias. "A maioria das 88 farmácias visitadas não dá qualquer informação sobre a pílula do dia seguinte e sobre os efeitos nem foram postas quaisquer questões às jovens", diz. O estudo revelou ainda que em 31 farmácias e no Centro de Saúde de Albufeira-Guia não avisaram a utente do prazo para tomar o medicamento.

Helder Robalo, aqui