sábado, 4 de dezembro de 2010

BIÓLOGA DE AVEIRO DESCOBRE ESPÉCIES NOVAS

Investigadora Sofia Reboleira identificou um pseudo-escorpião em quatro grutas diferentes do Algarve e um escaravelho numa gruta de Montejunto. Publicação saiu na 'Zootaxa'.

Vivem em grutas húmidas e escuras, são raros, e por isso descobri-los é desde logo uma enorme proeza. Foi isso exactamente que a bióloga e espeleóloga Sofia Reboleira fez: descobriu duas novas espécies de invertebrados cavernícolas em Portugal, que só existem por cá. Trata-se de um escaravelho e de um pseudo-escorpião, que a jovem investigadora acabou de fazer nascer para a ciência, ao publicar a sua descrição na revista Zootaxa. A do escaravelho, na última sexta-feira. O pseudo-escorpião há duas semanas.

Com dois centímetros de comprimento e enormes pinças, que lhe servem para a agarrar a sua presa - sim, o pseudo-escorpião é um predador -, o Titanobochica magna, como o designou a bióloga, que o descreveu juntamente com o biólogo da universidade de Alicante Juan Zaragoza, foi encontrado por ela em quatro grutas diferentes do Algarve.

"Os pseudo-escorpiões têm um dos venenos mais letais do mundo animal", conta a bióloga. E é esse veneno, associado às suas enormes pinças, que o torna um predador de sucesso. Pequenos insectos, como os ácaros e outros, que podem encontrar-se nestas grutas, constituem a sua alimentação. À cautela, a bióloga capturou os exemplares para estudo com um pincel. "Não sei se conseguem perfurar a pele humana", explica. E a verdade é que não quis fazer a experiência.

Já o escaravelho, designado Trechus tatai, e descrito em colaboração com outro biólogo espanhol, Vicente Ortuño, da Universidade de Alcalá, e os dois orientadores de doutoramento, Fernando Gonçalves, da Universidade de Aveiro, e Pedro Oromi, da Universidade de La Laguna, nas Canárias, foi encontrado numa única gruta da serra de Montejunto.

Apesar da sua diminuta dimensão - uns escassos dois milímetros -, este novo escaravelho também é um predador. "Alimenta-se de insectos, mas se não os houver consome matéria orgânica em decomposição", diz Sofia Reboleira.

Habitantes esquivos, adaptados à escuridão e elevada humidade das grutas, de onde nunca saem, "estas espécies são muito difíceis de encontrar", confirma a bióloga. "Escondem-se em pequenas frestas, onde não conseguimos chegar, por isso não sabemos quase nada sobre os seus hábitos de vida e comportamento."

Mas, de algum modo, Sofia Reboleira é já uma perita nesta área. Estas não são as primeiras espécies cavernícolas que descobre e descreve. No ano passado, deu à ciência duas novas espécies de escaravelhos, que ela própria descobriu em grutas da serra d'Aires e no Caldeirão, e que estudou no âmbito do mestrado.

Este ano, já a fazer o doutoramento, soma agora estas duas. O seu objectivo é estudar também formas para a conservação destas espécies endémicas (só existem em Portugal), que por vezes restringem a sua existência a uma gruta apenas, e que exigem medidas específicas de conservação. Quanto a mais espécies novas, a bióloga diz que há pelo menos mais uma para breve. Aguardemos.

É um pseudo-escorpião com dois centímetros de comprimento. Tem grandes pinças e injecta veneno

Este novo escaravelho é endémico de Portugal e foi encontrado numa única gruta em Montejunto

Filomena Naves, aqui