terça-feira, 30 de novembro de 2010

PAÍS COR DE ROSA

1. Numa primeira leitura, parece o melhor dos mundos: há mais portugueses a ganhar mais de três mil euros por mês.

Em sentido contrário, são agora em menor número os que ganham menos de 310 euros líquidos. O problema é que as estatísticas não resistem a uma segunda, e mais atenta, leitura. Quando se decompõem os números por regiões, voltamos à assimetria de sempre. Na região de Lisboa, de facto, os salários mais elevados do sector privado estão a crescer, enquanto os salários de miséria estão em regressão.

Mas o resto do país, encabeçado pelo Norte, está cada vez mais pobre. São cada vez menos os que ganham mais de três mil euros líquidos e aumentam de forma assustadora os que conseguem, quando muito, chegar aos 310 euros - são mais de 45 mil os trabalhadores que, na região Norte, levam para casa um vencimento inferior ao salário mínimo nacional.

É este o país em que vivemos, cor-de-rosa por fora, negro por dentro. Governado por gente cujo ângulo de visão não ultrapassa o Terreiro do Paço e que considera mais importante manter o compromisso com os espanhóis e ligar Lisboa a Madrid em TGV (não se sabe para quem), do que manter o compromisso que assumiu, ainda antes, com o Porto e o Norte para construir novas linhas do metro (para milhões de utilizadores).

2. As seis viaturas blindadas que o Estado encomendou para a PSP custam um milhão de euros. Dizem alguns que não é um montante significativo e que por isso não vale a pena perder muito tempo a questionar os defeitos do negócio. Ao contrário, a forma como justificaram e fizeram o negócio merece toda a censura. Para quem já não se lembra, os blindados foram comprados porque eram essenciais para manter a ordem durante a Cimeira da NATO.

Acontece que o primeiro dos seis blindados chegou um dia depois de acabar a cimeira (os outros chegarão quando calhar). Mais, foram comprados sem concurso público, optando-se pelo ajuste directo, precisamente por causa da urgência de manter a ordem pública quando recebemos ilustres visitantes. Ou seja, pagamos mais caro e não servem para nada. E isto diz tudo sobre a competência de quem nos governa e sobre a forma como se esbanja o dinheiro dos nossos impostos.

3. Em Beja estão a fazer, imagine-se, um aeroporto. A empreitada decorre tranquila, consumindo cada vez mais milhões e mais tempo. Assim continuaria, entretidos que andamos com as idas e vindas do FMI. Mas o Tribunal de Contas decidiu publicitar uma auditoria que não deixa pedra sobre pedra.

À parte o facto de ninguém perceber que falta pode fazer um aeroporto no meio da planície alentejana, ficámos a saber que, apesar dos 35 milhões de euros já gastos, a pista não pode receber aviões comerciais: para isso ainda vai ser preciso empatar mais oito milhões. Vale tudo.

Rafael Barbosa, aqui