domingo, 26 de setembro de 2010

TENSÃO CHEGA AO NÍVEL DO "AGRAVO PESSOAL"

A margem de negociação é tão estreita entre PS e PSD que o primeiro-ministro, José Sócrates, acusou o presidente ‘laranja’ de comportamento "impróprio" e Passos Coelho só admite conversar com o chefe do Executivo na presença de testemunhas.

A crispação é tal que a intervenção presidencial já é encarada como "decisiva" dentro de alguns sectores do maior partido da Oposição, mas não só. Os sociais--democratas ensaiaram ontem a estratégia de que os socialistas podem escolher outros parceiros para a negociação, nomeadamente, o Bloco de Esquerda, que partilha com o PS o apoio ao mesmo candidato presidencial, Manuel Alegre.

O espaço de manobra para dialogar deu a vez ao registo de ofensa. Em Nova Iorque, José Sócrates afirmou, de madrugada: "Tomo as declarações do líder do PSD pelo que são: um agravo pessoal absolutamente inadmissível e injustificável." Em causa está a frase de Passos Coelho, que só aceita falar com Sócrates na presença de testemunhas, a fazer lembrar o episódio entre o Presidente da República Ramalho Eanes e o primeiro-ministro Pinto Balsemão, no início da década de 80, que chegaram a levar gravadores para as conversas cara a cara.

Já Passos Coelho não respondeu ao primeiro-ministro, mas deu o recado: "Se as condições que o PSD colocou não são negociáveis, então o Governo que procure uma alternativa com outros partidos, nomeadamente com o Bloco de Esquerda, com quem já se entende à volta de um candidato a presidente da República, para viabilizar o Orçamento."

A forma como foram divulgados os dois encontros entre Passos Coelho e José Sócrates na semana passada criou um ambiente de tensão sem precedentes.

Ontem, Carlos Carreiras e Campos Ferreira, do PSD, acusaram o primeiro-ministro de défice de confiança e recordaram a imagem de "pântano" usada por António Guterres para se demitir em 2001 do cargo de primeiro-ministro socialista.

"Não deve haver partidos que são discriminados na discussão do Orçamento do Estado. Por outras palavras, o PS, quando escolhe apenas o PSD, está a fazer mal. Deve escolher falar com todos", argumentou, por seu turno, Ângelo Correia, conselheiro de Passos.

TRÊS MINISTROS LANÇAM APELOS
"[Um acordo] é possível, desejável e necessário. Assim reclama o interesse nacional." As palavras de Augusto Santos Silva, ministro da Defesa, e uma das vozes que, habitualmente, mais alto se levantam em duras respostas à Oposição, deram o tom ao coro de governantes que apelaram ontem à manutenção das negociações entre Executivo e PSD, no sentido de se obter um acordo para o próximo Orçamento do Estado.

Vieira da Silva, outra das vozes conselheiras de José Sócrates, fez ontem questão de afirmar que o País "teria muito a ganhar se houvesse capacidade de negociação e entendimento". "Sem capacidade de entendimento, todos ficamos a perder", sublinhou o ministro da Economia. Já António Mendonça, ministro das Obras Públicas, disse aos jornalistas que "tem de haver consenso", lembrando que, na actual conjuntura, "o fundamental é ter um bom Orçamento".

"MOMENTO LAMENTÁVEL DA POLÍTICA"
O antigo líder do PSD Santana Lopes apelou para que o "bom senso regresse rapidamente" ao líder do PSD e ao primeiro-ministro, considerando "um momento lamentável da vida política portuguesa" a tensão entre Passos Coelho e José Sócrates.

"O que se passou nos últimos dias é um momento lamentável da vida política portuguesa e espero que termine muito depressa, termine já", afirmou Pedro Santana Lopes. O também ex-primeiro-ministro defendeu que "não se pode chegar a um ponto em que o primeiro-ministro e o líder da Oposição não se possam encontrar. Pelo contrário, têm de se encontrar com frequência para falar sobre os assuntos do País."

Cristina Rita, aqui