domingo, 19 de setembro de 2010

O PROFESSOR ZANDINGA E AS SOLUÇÕES PORTUGUESAS

Neste extraordinário país que é Portugal não há problema, por maior que ele seja, que não tenha uma solução desenrascada de cinco estrelas.

O despacho de anulação de um pequeno concurso do TGV para a parte entre Lisboa e o Poceirão foi anunciado em Maio, mas só foi feito em Setembro - apenas uma décalage de quatro meses - porque depois de se anunciar teve de se ir ver se se podia fazer sem pagar uma indemnização aos espanhóis que tinham ganho o concurso.

O que era mesmo essencial - não há estudo que não o diga - era construir uma nova linha de caminho-de-ferro entre Lisboa e o Porto, mas o TGV para Madrid só se consegue fazer secando o financiamento para essa linha (e a de Porto-Vigo), e não há dúvida nenhuma de que o governo aposta nisso. Há os compromissos com Espanha (também acho que há para o Porto-Vigo, porque Vigo também é em Espanha, mas não são compromissos tão fortes, com certeza...). O ministro António Mendonça foi explicar muito sobre este caso ontem à tarde numa sessão sobre o Dia da Extremadura comemorado em Lisboa, antes de ir hoje ao Norte inaugurar o novo Terminal Multiusos do Porto de Leixões.

Para se despedir um seleccionador nacional de futebol não é preciso negociar com ele. Arranja-se um processo disciplinar e despede-se com justa causa (mais à frente se verá se a razão era atendível e também quem paga ou não paga). É preciso um novo seleccionador nacional porque o piloto automático não funciona e vamos a Madrid, de avião, transformar José Mourinho no novo professor Zandinga - em dois jogos, com uns pozinhos de perlimpimpim, o special one de certeza que consegue duas vitórias e encarreirar-nos para a qualificação rumo ao Europeu. José Mourinho tem capacidade de trabalho, mas não me consta que tenha capacidade para fazer milagres em duas semanas. Ele queria, mas acha que o Real Madrid não quer - claro que não quer, e ele próprio também foi muito claro: não tenho nada a ganhar nesse negócio. De qualquer modo, daqui a 20 anos ele estará disponível de certeza absoluta e pronto para fazer da selecção uma campeã do mundo. E nessa altura já não estará em Espanha.

Estamos num tempo em que são precisas ideias novas e de futuro, mas estas não me parecem nem novas nem de futuro nenhum. São apenas formas de irmos enganando alguém, a começar por nós próprios.

O TGV Lisboa-Madrid neste momento é uma miragem e nem devíamos pensar nele.

A prioridade do nosso caminho-de-ferro devia ser a nova linha Lisboa-Porto, porque a actual está saturada.

O seleccionador nacional tem de ser um treinador capaz, não pode ser o fantasma de um grande treinador que tem mais em que pensar num clube que lhe paga um salário bastante razoável.

Andamos à procura de soluções à professor Zandinga. A crise económica é grande e dá-nos cabo da vida. Mas é pior se nos der também cabo da cabeça.
 
Manuel Queiroz, aqui