quarta-feira, 22 de setembro de 2010

"COMO QUERES MORRER: COM FACA, MACHADO OU PISTOLA?"

Filho de Maria Alice recordou em tribunal as várias ameaças feitas à mãe assassinada.

Diogo Duarte, de 19 anos, esteve ontem no Tribunal de Santarém a recordar as circunstâncias que terminaram com a mãe assassinada em Novembro de 2009. O alegado autor do crime, António Pereira de Sousa, de 59 anos, viu o jovem entrar e baixou a cabeça de olhos fixos no chão. No ano passado privou por vezes com o rapaz, já que mantinha uma relação amorosa com a mãe.

Diogo, órfão de Maria Alice Duarte, que perdeu a vida aos 46 anos, não estava calmo. "Sinto-me inibido. Já fui ameaçado por esse senhor." O homem, que terá desferido tiros de caçadeira que provocaram a morte da sua mãe, saiu da sala para o jovem depor.

Interrogado por juízes, Ministério Púbico e advogados, o jovem considerou António Sousa como um "obcecado". "A vida da minha mãe mudou. Cada vez que recebia uma mensagem ficava estranha", disse Diogo. Tão "estranha" que o filho ousou olhar para o ecrã do telemóvel. O teor das tais mensagens era explícito: "Ela tinha de voltar para ele senão havia sangue. Também dizia para ela pensar no filho que tinha..."

Uma semana antes de morrer um episódio ficou gravado na memória do jovem: "A minha mãe estendeu-me dois brincos de ouro. Disse-me que ele lhe queria cortar as orelhas."

Momentos antes, o público não tinha podido estar na sala para ouvir a versão do alegado assassino. O advogado deste pediu escusa de publicidade, ou seja, a primeira parte do julgamento foi feita sem público na sala de audiência.

"Houve episódios complicados de violência doméstica", justificou ao DN um interveniente processual.

Esses factos constam na acusação que foi ontem lida à porta fechada. 31 de Outubro de 2009: "Quando Maria Alice se preparava para entrar em casa, pelas 03.30 [António Sousa] abordou-a, apontou-lhe um machado à cabeça e fê-la abrir a porta da residência... Sempre com o machado apontado à cabeça puxou por uma faca que lhe apontou, perguntando-lhe como queria morrer, se com o machado, a faca ou uma pistola que de imediato exibiu." A mulher, segundo a acusação, foi forçada de seguida a manter relações sexuais com António.

O filho também recordou ao tribunal o que aconteceu a 5 de Novembro quando estava com a mãe na esquadra da PSP e esta recebeu uma ameaçadora mensagem de António. Os agentes foram ao encontro do homem que tinha no bolso uma arma de fogo pronta a disparar. No carro, debaixo do banco, tinha um machado.

Perante sinais de alarme, Diogo chegou a dizer a António para se afastar da mãe. Que ela queria terminar de uma vez por todas com a relação: "Disse-me para não me meter e para ter cuidado." Diogo não está descansado. "Esta semana recebi várias chamadas estranhas." A declaração passou despercebida ao tribunal.

Luís Fontes, aqui