quarta-feira, 25 de agosto de 2010

VENHAM TOMAR CAFÉ CONNOSCO

O dr. Passos Coelho e o engº Sócrates já fizeram umas dúbias tentativas para acabar o Verão mais cedo, mas por muita revisão da Constituição que recusem e muita aprovação do orçamento que rejeitem, já todos percebemos que o Estio ainda queima os seus últimos cartuchos.

E os últimos pinheiros e eucaliptos... Por mim, que já trabalho há muito, o Verão tem que ser respeitado e mesmo em Agosto, adivinho que os leitores do JN ainda não estão preparados para crónicas mais pesadas.

O café é tudo menos uma coisa simples. Debaixo de uma aparente simplicidade esconde-se um produto cada vez mais complexo. Como toda a gente sabe, escolher é aquele tipo de verbo enganador: parece simpático quando o ouvimos, mas é terrível quando o desfrutamos. Com o café as coisas começam a complicar-se com o advento das máquinas, quando foi preciso começar a escolher entre o cimbalino e o café de saco. Mas com isso podíamos nós bem.

Subitamente as dificuldades tornaram-se arrasadoras. Hoje em dia o café pode ser "italiano", curto, meia chávena, comprido e até normal. O meia chávena ainda comporta outras chavetas, porque as chávenas não são todas iguais. E é por isso que também há quem peça café em chávena escaldada, ou então fria, em chávena alta ou então baixa, em copo de plástico para poder passear com ele, ou em chávena de porcelana a preceito porque o café só tem dignidade assim.

Se nos aventurarmos no terreno das marcas o caso ainda muda de figura. Há os que defendem que a Delta é que faz a diferença em Portugal, os apaixonados da Nespresso, que já faziam fila para comprar as cápsulas ainda antes do George Clonney começar a tomar o "ristretto" e os saudosos da Buondi e da Segafredo, para além de muitos outros.

Se já houve um filme sobre o chocolate (aliás magnífico) é injusto que ainda nenhum produtor ou realizador se tenha lembrado de fazer um filme sobre o café. Onde não ficassem de fora todos aqueles que não sendo propriamente café, precisam dele para se afirmarem : o café pingado, o garoto, o carioca, o cappucino, o descafeínado , o irish coffee, o café com cheirinho...

E aqui nova chaveta. Vão longe os tempos em que o cheirinho era só uma bagaceira de verde. Agora o consumidor refinou e quer o cheirinho de brandy ou uisque, que pode ser novo ou velho, de malte ou não...

Finalmente a deixa que eu precisava. Na verdade o café é como a política portuguesa: é difícil apanhar-lhe o fio à meada porque não tem ponta por onde se lhe pegue... que não se desfiem mais uns novelos. Ou novelas.

Manuel Serrão, aqui