terça-feira, 4 de agosto de 2015

VENHA DAÍ "O CANDIDATO"

Por tudo quanto está em causa, e dado o mais que certo e relevante papel que o próximo presidente da República terá necessariamente que ser chamado a desempenhar, merecíamos ter já "O candidato"

Não é assim, mas tenhamos fé que ainda poderemos vir a ter...

À esquerda é o pântano, e as sondagens não descolam porque sendo embora todos os que se apresentaram até agora pessoas estimáveis como candidatos são fraquinhos, fraquinhos, fraquinhos...

À direita é o deserto. Tem-se falado muito de três eventuais candidaturas sem que no entanto nenhum desses personagens se chegue à frente demonstrando genuína vontade de o querer ser. É pena, isso denota muito calculismo, muita tática, muitos "ses" na engrenagem... Tenho para mim que assim só lhes pode vir a correr mal.

Depois há aqueles que se autoexcluíram pelas mais diversas razões, a principal das quais suspeito tenha sido saberem que a tarefa será hercúlea. Tiveram, não diria medo, mas receios vários que se compreendem, ou não... Na verdade, abraçar tal desafio e atingir o desiderato final com sucesso não está ao alcance de qualquer um. Quem quer que se disponha a ir em frente tem que fazê-lo com total entrega e verdadeiro espírito de missão porque o caminho é estreito e árduo.

Aquele de que falo, em abstrato já se vê, não tem que ser um herói, tão-pouco um génio, mas sim, tem que ser alguém especial. Terá que ter um espírito ganhador, capaz de galvanizar vontades, abrangente e patriótico que agregue em vez de dividir, que some em vez de subtrair.

São muito poucos aqueles que reúnem as condições e características necessárias para poder vir a protagonizar esta candidatura, já que isso seria fazer o pleno de tudo o que de melhor existe em cada um dos candidatos já falados, quer à esquerda quer à direita, e acrescentar muito mais.

Falo em ter coragem, determinação e vontade de ser parte da solução a encontrar para implantar as mudanças que se impõe. Falo em ter carisma, jogo de cintura, capacidade de gerar consensos, de negociar e mobilizar para causas. Falo em ter a experiência política e o faro apurado para a coisa pública que permita mover influências e promover com sucesso as alterações prementes, nomeadamente no sistema político que se sabe degradado, descredibilizado e moribundo. Falo em ser sério, capaz, trabalhador, em saber o que se quer e em não transigir nos princípios. Falo em ser equilibrado, ter bom senso e lucidez que granjeie respeito e simpatia alargadas. Falo em saber ser e estar, em ter cultura e mundo.

O cargo é exigente, sim, e implica ainda uma estrutura e dimensão humana que preserve e defenda valores como a liberdade, a igualdade, a tolerância, a inclusão, a solidariedade e a generosidade.

Não, não estou a falar dos tradicionais barões, tão-pouco de D. Sebastião, mas antes de uma pessoa normal, que goste das coisas boas e simples da vida, que se possível tenha ainda sentido de humor e seja capaz de rir de si próprio e fazer rir os outros.

Por último, mas não menos importante, tem que ser alguém que saiba cultivar afetos porque o povo gosta e precisa disso.

Neste momento está já, quem tem a paciência de me ler, a perguntar: e isso existe? Existe, sim, e aparecerá na altura própria, respondo eu que sou otimista.

Se eu fosse aos chefes dos partidos do Governo e das oposições não subestimaria esta possibilidade e não hipotecaria desnecessária e precipitadamente os apoios respetivos.

Aliás, vou ainda mais longe e atrevo--me a dizer que, dadas as circunstâncias, seria um enorme serviço que todos eles prestariam à democracia se não manifestassem apoio a ninguém e deixassem o povo, que tanto gostam de dizer que é quem mais ordena, escolher livremente.

Está provado que é possível sair vencedor sem o espartilho de nenhum poder e haver candidatos verdadeiramente independentes.

Que assim seja também desta vez. Venha daí "O candidato"!

Nota: para quem não saiba, militei no PSD durante muitos anos e saí por opção. Sou agora ainda mais independente e livre, e continuo a ter opinião por muito que custe a alguns ex-companheiros. E não, não tenho nada contra os partidos políticos que, reconheço, têm um papel indispensável em democracia, que não nesta circunstância.

Adriana Aguiar Branco, aqui