Por tudo quanto está em
causa, e dado o mais que certo e relevante papel que o próximo
presidente da República terá necessariamente que ser chamado a
desempenhar, merecíamos ter já "O candidato".
Não é assim, mas tenhamos
fé que ainda poderemos vir a ter...
À esquerda é o pântano, e as
sondagens não descolam porque sendo embora todos os que se apresentaram
até agora pessoas estimáveis como candidatos são fraquinhos, fraquinhos,
fraquinhos...
Depois
há aqueles que se autoexcluíram pelas mais diversas razões, a principal
das quais suspeito tenha sido saberem que a tarefa será hercúlea.
Tiveram, não diria medo, mas receios vários que se compreendem, ou
não... Na verdade, abraçar tal desafio e atingir o desiderato final com
sucesso não está ao alcance de qualquer um. Quem quer que se disponha a
ir em frente tem que fazê-lo com total entrega e verdadeiro espírito de
missão porque o caminho é estreito e árduo.
Aquele de que falo, em
abstrato já se vê, não tem que ser um herói, tão-pouco um génio, mas
sim, tem que ser alguém especial. Terá que ter um espírito ganhador,
capaz de galvanizar vontades, abrangente e patriótico que agregue em vez
de dividir, que some em vez de subtrair.
São muito poucos aqueles
que reúnem as condições e características necessárias para poder vir a
protagonizar esta candidatura, já que isso seria fazer o pleno de tudo o
que de melhor existe em cada um dos candidatos já falados, quer à
esquerda quer à direita, e acrescentar muito mais.
Falo em ter
coragem, determinação e vontade de ser parte da solução a encontrar para
implantar as mudanças que se impõe. Falo em ter carisma, jogo de
cintura, capacidade de gerar consensos, de negociar e mobilizar para
causas. Falo em ter a experiência política e o faro apurado para a coisa
pública que permita mover influências e promover com sucesso as
alterações prementes, nomeadamente no sistema político que se sabe
degradado, descredibilizado e moribundo. Falo em ser sério, capaz,
trabalhador, em saber o que se quer e em não transigir nos princípios.
Falo em ser equilibrado, ter bom senso e lucidez que granjeie respeito e
simpatia alargadas. Falo em saber ser e estar, em ter cultura e mundo.
O
cargo é exigente, sim, e implica ainda uma estrutura e dimensão humana
que preserve e defenda valores como a liberdade, a igualdade, a
tolerância, a inclusão, a solidariedade e a generosidade.
Não, não
estou a falar dos tradicionais barões, tão-pouco de D. Sebastião, mas
antes de uma pessoa normal, que goste das coisas boas e simples da vida,
que se possível tenha ainda sentido de humor e seja capaz de rir de si
próprio e fazer rir os outros.
Por último, mas não menos importante, tem que ser alguém que saiba cultivar afetos porque o povo gosta e precisa disso.
Neste
momento está já, quem tem a paciência de me ler, a perguntar: e isso
existe? Existe, sim, e aparecerá na altura própria, respondo eu que sou
otimista.
Se eu fosse aos chefes dos partidos do Governo e das
oposições não subestimaria esta possibilidade e não hipotecaria
desnecessária e precipitadamente os apoios respetivos.
Aliás, vou
ainda mais longe e atrevo--me a dizer que, dadas as circunstâncias,
seria um enorme serviço que todos eles prestariam à democracia se não
manifestassem apoio a ninguém e deixassem o povo, que tanto gostam de
dizer que é quem mais ordena, escolher livremente.
Está provado que é possível sair vencedor sem o espartilho de nenhum poder e haver candidatos verdadeiramente independentes.
Que assim seja também desta vez. Venha daí "O candidato"!
Nota:
para quem não saiba, militei no PSD durante muitos anos e saí por
opção. Sou agora ainda mais independente e livre, e continuo a ter
opinião por muito que custe a alguns ex-companheiros. E não, não tenho
nada contra os partidos políticos que, reconheço, têm um papel
indispensável em democracia, que não nesta circunstância.
Adriana Aguiar Branco, aqui