quarta-feira, 1 de julho de 2015

FALTA DE ALTURA

São imagens violentas, de pessoas apanhadas pelo horror enquanto estavam de férias na Tunísia

Imagens que recordam o quanto a ameaça fundamentalista se aproximou e está à nossa porta, a duas horas de avião. O dia de ontem foi marcado por vários focos de violência. Três ataques, três países, três diferentes perfis de vítimas, mas um denominador comum: a inspiração no ativismo violento do Estado Islâmico e nos seus apelos para usar as armas.

No Kuwait, na França ou na Tunísia, contra muçulmanos xiitas ou contra turistas ocidentais, as investidas quase simultâneas dão uma perturbadora sensação de ubiquidade dos terroristas. À medida que se aproxima o primeiro aniversário do califado que se estabeleceu a 29 de junho na Síria e no Iraque, os ataques múltiplos têm o efeito simbólico de nos recordar a capacidade de mobilização do Estado Islâmico.

É essa capacidade que leva cada vez mais estados a apertar com leis o cerco ao terrorismo. Esta semana entrou em vigor em Portugal um pacote legislativo que aumenta as penas para quem, por exemplo, incitar o terrorismo através da Internet ou simplesmente pesquisar informação com vista à adesão a movimentos terroristas. São respostas repressivas a ameaças cada vez mais intensas, mas que levantam dúvidas quanto à real eficácia preventiva e ao risco de ceder a tentações securitárias.

A organização extrema e o pensamento estratégico do Estado Islâmico exigem respostas coerentes e globais. Nenhum país sozinho consegue proteger-se da ameaça que o terrorismo e o fundamentalismo representam.

Por mais importante que possa ser melhorar a legislação ou a capacidade de intervenção dos serviços de segurança e das polícias, é urgente assumir que esta é uma luta à escala mundial. E uma luta que não é apenas policial, mas pressupõe particular atenção a fatores sociais.

Esporadicamente, a reboque de ataques extremamente violentos, convocam-se cimeiras de emergência e discutem-se medidas extraordinárias. Mas nesta, como noutras pastas, a Europa tem-se revelado incapaz de demonstrar coesão e estratégia na procura de soluções.

Sufocada por negociações financeiras, a União Europeia perdeu nos últimos anos posição geopolítica. Jean-Claude Juncker sintetizou bem ontem, a propósito do falhanço na discussão sobre a criação de quotas obrigatórias para acolhimento de refugiados, o drama que se reflete em tantos dossiers: "A Europa não está à altura das ambições que proclama".

Inês Cardoso, aqui