terça-feira, 2 de junho de 2015

E OS DEPUTADOS NÃO QUEREM CRITICAR TAMBÉM OS CAPITÃES DE ABRIL PELO ATRASO DO "25 DE ABRIL"?

Se a comissão parlamentar de inquérito ao BES fizesse agora um relatório avaliando o colapso da ditadura em 1974 e o dia 25 de Abril, que devolveu a liberdade ao país, iria decerto criticar os capitães do MFA por terem agido demasiado tarde.
 
Porque não derrubaram o regime três ou quatro anos antes, poupando os portugueses a tamanha opressão? Como permitiram que a guerra colonial se prolongasse por 13 anos e, ainda por cima, participaram activamente nela?
 
Os actuais deputados não poupariam algumas farpas aos libertadores capitães de Abril por não terem “detectado mais cedo os sinais de alarme” ou por não haverem “actuado de forma mais decidida” - como faz o relatório parlamentar sobre o BES em relação ao que chama “incapacidade do Banco de Portugal” e à actuação do seu governador, Carlos Costa, na melindrosa gestão do colapso do BES e do afastamento compulsivo da família Espírito Santo da liderança do banco.
Como se o mundo ficasse de repente às avessas, o relatório final da comissão preocupou-se mais em acentuar a suposta falta de eficácia da supervisão do Banco de Portugal e de Carlos Costa - que puseram fim às irregularidades e aos desmandos no Grupo Espírito Santo - do que em isolar as culpas de Ricardo Salgado e dos seus coniventes familiares. 
 
É muito fácil analisar de fora e distribuir culpas a posteriori. Os deputados que, ao longo de anos a fio, nunca tiveram a ousadia de tocar, com um dedo que fosse, no imenso poder de Ricardo Salgado (o chamado DDT- Dono Disto Tudo) e do BES, têm agora a desfaçatez de culpabilizar Carlos Costa, o primeiro a revelar a coragem para enfrentar esse monstro intocável da finança e da sociedade portuguesa? É preciso muita lata.
 
Basta recordar a cumplicidade dos últimos governos do PS e do PSD/CDS, de José Sócrates e Durão Barroso, com a influência de Ricardo Salgado e os interesses do BES para perceber as culpas no cartório do establishment partidário. É bom lembrar isto a alguns talibãs da comissão de inquérito, como o socialista Pedro Nuno Santos, que insiste que “o Banco de Portugal detectou tarde, o Banco de Portugal desenhou uma estratégia que fracassou”. Não se esqueça, também, de culpar os capitães pelo atraso do 25 de Abril. 

José António Lima, aqui