terça-feira, 12 de maio de 2015

CASAMENTO DE CONVENIÊNCIA

Em novela que se preze, o namoro dos dois protagonistas é difícil e prolongado.
 
O par romântico ora se aproxima entre juras de amor eterno, ora se afasta entre recriminações ou traições. Ainda assim, o final feliz repete-se de novela para novela e acaba sempre com alguém vestido de noiva. É isso que a audiência quer, um final feliz.
 
A novela em que se transformou a coligação entre o PSD e o CDS segue este previsível guião à letra.
 
Os líderes dos dois partidos decidiram encetar uma vida a dois em 2011, no que foi percebido como uma espécie de união de facto rumo a um eventual casamento. Pelo meio, tiveram alguns arrufos sérios. Ao ponto de um dos noivos, Paulo Portas, anunciar a irrevogável rotura, ressentido pela forma como foi escolhido o sucessor do ministro das Finanças.
 
Já sabíamos que o líder do CDS não tinha gostado da escolha, ficámos agora a saber que também não apreciou o facto de ter sido informado da decisão por SMS. Portas respondeu na mesma moeda, anunciando a separação também por SMS. Com o picante de prolongar a agonia do parceiro, rejeitando-lhe as chamadas telefónicas. A crise foi ultrapassada com uma prenda. Passos não ofereceu um ramo de flores ou uma joia, mas promoveu Portas a vice-primeiro-ministro e deixou-o escolher um novo ministro da Economia.
 
A harmonia do casal durou pouco, como se percebeu quando os restantes protagonistas se começaram a interrogar sobre a data do casamento. Ou era o CDS que dava sinais de querer regressar à liberdade de uma vida independente, ou era o PSD que afirmava a sua pujança, anunciando ser capaz de vencer eleições em solitário. As convenções sociais, no entanto, impuseram-se. E a 25 de abril o casal anunciou a coligação.
 
No caso de Passos e Portas, junta-os a ilusão, mais do que a convicção, de que juntos serão capazes de manter o Poder e somar mais votos que o PS. Ainda que, até hoje, nenhuma sondagem independente legitime essa leitura: seja nos estudos de opinião em que são avaliados de forma individual, seja naqueles que os dão como parceiros de uma coligação, o resultado ficou sempre, mais décima, menos décima, nos 35%. Próximos, mas sempre atrás do PS.
 
Fica ainda assim a fundada suspeita de que aquilo a que se assiste é a um casamento de conveniência.
 
O que também acontece muito nas novelas. O azedume, o desprezo e os ajustes de contas escondem-se atrás de uma fachada que não pretende mais do que manter, a qualquer custo, o poder económico e social. Nas novelas, estes casamentos costumam acabar mal.
 
Rafael Barbosa, aqui