sábado, 4 de abril de 2015

IDA AO CENTRO DE SAÚDE

De sol a sol eu trabalho,
Com afã, desembaraço:
De tantas leivas que talho
Trago já dorido o braço.
 
António de Cértima
Hoje fui ao SAP, no Centro de Saúde, fazer o penso. Lá chegado, e sem fazer nada por isso, acabei por ouvir uma garota, que não sei se já teria 16 anos, a falar da noitada que tinha tido.
Ainda hoje estou de ressaca! dizia.
Ao que parece, depois do jantar comemorativo do dia mundial da mulher, a jovem terá tido uma noite daquelas! O que mais me custou foi ouvir a fedelha dizer que a câmara municipal não passa cartão nenhum às mulheres.
 
Na agenda municipal, uma única referência: entrada livre para todas as mulheres nas piscinas municipais.
Ah, e tal, porque no dia mundial do idoso vão com oitocentos velhotes para o Minho, levam-nos de autocarro, oferecem-lhes o almoço e põem-nos a dançar o “Vira”. E às mulheres, nada! Oferecem-lhes um banho na piscina como se fossem umas pulguentas e carraçosas!
Não adiantou nada eu dizer que o município não pode gastar à fartazana, que tem que ter contenção, que só em processos, tribunais e advogados é uma pipa de massa! Nada!
Zurziu a torto e a direito no pessoal do executivo autárquico.
Ah, e tal, que é só homens, mesmo a que não é homem ainda é pior que eles… Que não dão nenhum valor às mulheres… Enfim! Não foi nada bonito de se ouvir!
Quando pelo altifalante da sala de espera ecoou o nome “Maria Alcina”, a jovem levantou-se e entrou para a consulta. Eu fiquei ali sozinho a pensar para com os meus botões que as crianças de hoje são muito mais sabidonas do que as do meu tempo. Coisas da CEE, de certeza absoluta!
Ainda nem tinham passado cinco minutos, quando entrou para a sala de espera um senhor, já entradote, que estabilizou, de pernas ligeiramente abertas, no lado oposto àquele em que eu estava: era o Tóino Bi-Rodas.
Aproximou-se de mim e cumprimentou-me. Secamente, disse-me que sentia dores de estômago.
Se há gajo que eu curto a valer é o Tóino Bi-Rodas. Calculo que alguns bacanos ao tomar conhecimento desta minha confissão já estejam a rir, de boca escancarada, ou a pensar em piadinhas de cariz duvidoso. Fazem mal. A minha afirmação não é ligeira: é pragmática, clara como a água, e tem justificação.
Quantos gajos, neste concelho, se podem dar ao luxo de dizer que já fizeram muita gente feliz, ao ponto de ficarem com um ar embevecido, semelhante ao que alguns membros da assembleia municipal fazem ao ouvirem os discursos do presidente da câmara? Digam lá quantos? Ninguém responde? Então, é porque eu tenho razão!
Ok! É verdade que o Herman José já fez muita gente feliz neste concelho quando cá veio contar umas anedotas por alturas da miss Bairrada, mas esse não conta, porque é artista de televisão e a sua presença entre nós, ainda que por duas ou três horas, só veio dignificar um concelho que, depois da sua presença, nunca mais foi o mesmo! É uma diferença como da água para o vinho!
O Tóino, que muito pouca gente tem a feliz sorte de saber que cavalga toda a sela, já fez muito gajo feliz. E tem mesmo sacrificado a sua própria felicidade para fazer os outros felizes.
É certo que, por vezes, são momentos de felicidade mais curtos do que a pista ciclável que está prevista para a nova alameda da cidade. Mas aí não é culpa dele.
Os gajos das bicicletas que optem por andar de carro para gozar as vistas da futura via, em vez de andarem de “bicla” e sujeitarem-se a cair e a esmurrar os cotovelos e os joelhos.
E agora que torno pública esta minha simpatia pelo Tóino Bi-Rodas, tenho de contar dois pequenos episódios que são bem o exemplo de como o Tóino é um gajo “bué-da-fixe”.
Num dia destes, tive de utilizar os sanitários públicos sitos no jardim da Avenida Abílio Pereira Pinto, em frente à Caixa Geral de Depósitos. Estava tão precisado dessa utilização que, antes de entrar, nem reparei nas pontas de cabo e de fita amarela que sinaliza o local onde, até há uns meses atrás, esteve implantado um posto de recepção de correio. Resultado: acabei por tropeçar e fiz uma valente equimose na cana do nariz. Ainda a crosta da ferida não tinha desaparecido, e tive que atravessar a Rua do Foral (futura alameda) para ir ao serviço de Finanças cumprir com as minhas obrigações fiscais.
Eis senão quando fui abalroado por uma viatura provinda do lado sul (para quem não sabe para que lado fica o norte, eu explico: a viatura provinha do lado de Sangalhos). Resultado: hematomas nas canelas e canadianas nos braços por uns dias. Palavra puxa palavra, lá acabei por pedir desculpa ao gajo que conduzia o veículo, depois de este me ter feito ver que naquele local não há nenhuma passadeira que se veja pintada na rua. Além disso, o único semáforo que existe fica tão lá em cima que nem se vê, pois o outro, o que estava em frente à agência de viagens, foi retirado há uns meses e já só restam dele as pontas dos cabos de ligação atiradas para o chão.
Apesar da amizade que me liga ao Tóino, e de saber que é um gajo bem relacionado e com bastantes influências, não lhe disse nada. Porém, um gajo nosso amigo contou-me que, quando ele tomou conhecimento destes acontecimentos, terá comentado:
Não lhe faz mal nenhum! Já que o gajo não gosta de atletismo, ao menos que endureça os músculos dos braços, enquanto anda de muletas!
Portanto, pessoal, quando quiserem ter uma referência genuína do que pode ser um gajo verdadeiramente porreiraço, basta começarem a aparecer naqueles encontros bimensais que ele tem com os colegas, onde o Tóino é figura de proa, e ouvir as suas magníficas intervenções significa chorar por mais! Qualquer dia ainda havemos de ver este gajo a dar mais autógrafos do que o Cristiano Ronaldo no final dos treinos.
Tóino, és grande: agora que o kompensan já se vende nas lojas de conveniência, duvido que haja no mundo inteiro grades de “mines pretas” e sandes de porco assado no espeto bastantes para te agradecer!
Importa referir que a utilização do termo ‘gajo’ é uma questão de carinho e ternura. Nunca por menor consideração ou insulto. Gajo como eu é um verdadeiro gajo que não insulta outro gajo.
Portanto, por aqui se perceberá que tenho pelo Tóino Bi-Rodas o mesmo respeito e consideração que tenho pela Irmã Maria dos Anjos da nova telenovela da TVI ou pela Leona da novela da SIC. São ambas gajas encantadoras, apesar de eu não apreciar o que fazem ou concordar com o que dizem. Logo, não se deve entender na palavra ‘gajo’ uma desconsideração, mas sim, por exemplo, como um beijinho na face: só um, porque dois é de provinciano.
Mal entrou na sala de espera, o Tóino começou a contar-me a odisseia que viveu para percorrer a distância que separa a Escola Secundária e o Centro de Saúde.
Hoje não morri por sorte! disse o gajo. Ali em frente aos edifícios feitos pelo Quim, tive que estancar o meu bolinhas para evitar um valente choque.
 Mal acabou de dizer isto, começou com exercícios de artilharia. Talvez por ter comido feijoada à transmontana com chispalhada de porco!
Deixei-o a fazer a ginástica dele e acabei por me manter quieto no meu lugar. Que pena tive de ele não poder acabar a conversa! Sempre haveria de perguntar-lhe se também gosta, como eu, da linda vista que se alcança das traseiras dos edifícios feitos pelo Quim para a Serra do Caramulo!