sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

2014: O ANO SEM CHÃO

"Sejam realistas, peçam o impossível".
 
Talvez esta seja uma boa altura para renovar este slogan de 1968, que deu vida a tantas paredes.
 
Olhando o que nos fica de 2014, bem que podemos escolher como assinatura "sejam realistas, esperem o impossível".
 
O "impossível" fartou-se de nos visitar ao longo de um ano, que até se anunciava como o tempo para voltarmos a construir um regresso à normalidade.
 
Afinal era o ano do "fim do tempo do protetorado" e 17 de maio seria "o dia em que a nossa liberdade de decisão foi reconquistada".
 
Ainda não sabemos se para o ano será feriado a 17 para substituir o da Restauração, mas o que sabemos é que a retórica política não fez aumentar pensões (isso devemo-lo ao Constitucional) e é capaz de tropeçar em si própria. Sete meses depois de termos sido "libertados", afinal temos de privatizar a TAP porque a troika assim quis
 
Ao longo de 2014 foram mais as vezes em que os portugueses sentiram que o chão lhes fugia dos pés do que aquelas em que caminharam em terreno sólido. Temos um sistema bancário sólido, comprovado pela vigilância da troika e pelos testes de stress? Logo o maior banco privado português se esboroa à nossa frente revelando uma gestão ruinosa e um regulador timorato. Temos uma empresa de ponta no setor das telecomunicações, capaz de ser a vanguarda de um grupo lusófono de telecomunicações? Pois acabou a ser fundo de maneio para uns tubarões brasileiros.
 
Foi assim 2014, um ano de "impossíveis" como o de um ex-primeiro-ministro ser preso, da cúpula do serviço público ser acusada de corrupção ou da "maior reforma da Justiça, em séculos", acabar bloqueada num sistema informático. No meio disto, não conseguir colocar os professores devidamente a tempo nas escolas até é prejuízo menor.
 
Se apontar um rumo é importante para sair de uma crise, não é menos relevante sentirmos que o chão de onde partimos é minimamente sólido. 2015 dificilmente será suficiente para nos devolver a estabilidade que 2014 roubou. A jornada será necessariamente longa.
 
David Pontes, aqui