domingo, 20 de julho de 2014

ORGULHO E PRECONCEITO

Nos dias que correm falar de orgulho na pátria, no hino ou na bandeira só pode ser irónico.

Seja por desventuras futebolísticas seja por crimes de colarinho branco (um nome chique para roubo ou "amiguices" perpetrados por senhores importantes e viajados) nenhum português se pode sentir especialmente estimulado a vestir a camisola verde e vermelha.

O BES pode estar à beira da insolvência por causa de um buraco de centenas de milhões de euros nas várias participadas da sua holding, buraco esse que ninguém sabe explicar. O seu presidente (o do BES) resiste a sair e lê-se que só o faz porque o governador do Banco de Portugal lhe terá "acenado" com um conjunto de dossiers comprometedores. O destino do dinheiro desaparecido parece não ser importante e o presidente terá feito o favor de sair do banco mas sem sequelas de maior.

A PT mandou comprar papel comercial da Rioforte na módica quantia de cerca de 900 milhões de euros, alegadamente sem respeitar o circuito de autorizações previsto e agora perde o equivalente valor no capital da empresa que resultar da fusão PT/Oi. Vá lá que pelo menos já não manterão o compromisso de elevar a chairman o prevaricador. Mas não somos capazes de avaliar qual o efeito final de tudo isto nos serviços que a tantos de nós ainda presta a PT. 

Como também não somos capazes de avaliar qual o impacto na economia nacional da exposição de tantos e tantos investidores a instrumentos financeiros emitidos pelo BES, ou outras participadas da sua holding, ao longo do tempo. E não adianta vir o primeiro-ministro dizer que os contribuintes não assumirão as eventuais perdas. Que remédio teremos todos nós mais uma vez. O recurso aos cerca de seis mil milhões que ainda sobram para a recapitalização dos bancos, a ser usado no BES, só é diferente dos fundos usados para a intervenção no BPN porque o seu impacto via impostos ou outras poupanças forçadas será mais diferido no tempo.

Do lado do Governo e da Oposição outra perplexidade. Num país pobre, sujeito a reformas difíceis sobre as quais não nos podemos dar ao luxo de errar, o Governo não consegue consensualizar uma alteração tão importante como a do mapa judiciário e o líder do maior partido da Oposição tem o desplante de dizer que se esta reforma avançar como está, promete desfazê-la mal chegue ao Governo. Que espécie de irresponsabilidade é esta? De uns e outros que se arrogam no direito de experimentar e voltar a experimentar à custa do cidadão e do seu bem-estar?

Aqui no Porto a tristeza é outra. Vai-se sabendo que o acervo de um dos nossos prémios Pritzker, o de Álvaro Siza Vieira está mais perto de ir para o Canadá! Não somos capazes de nos entender e a Casa da Arquitetura, que devia ter albergado os fundos documentais dos nossos maiores arquitetos, está placidamente em banho-maria incapaz de fazer o que se propôs.

Orgulho portanto, estamos conversados!

E no entanto há ainda quem no país sofra por não ter o direito de vestir a farda com as cores da bandeira tão ciente está do seu valor, do seu prestígio externo e da confiança que imediatamente transmite.

Estou a falar-vos de uma equipa de comissárias de terra da TAP que, no aeroporto do Funchal, não tem o direito, sabe-se lá por quê, de usar a farda com as cores nacionais.

Ao perguntar como tudo corria, a responsável com quem falava dizia-me que os problemas não são as horas a mais, o levantar às quatro da manhã ou os cortes nos salários ou nas regalias. O problema, fonte de inenarrável tristeza é, para este grupo de funcionárias, estar vedado o uso da farda da TAP e obrigatório o uso do uniforme da Groundforce.

O caráter simbólico das cores da bandeira, a função de representação nacional que assume quem as veste e a evidência da notoriedade que detêm e da segurança e do orgulho que transmitem, fazem desta farda muito mais do que um uniforme. Transformam-no numa condição de superação na qualidade do serviço prestado.

Comoveu-me a capacidade de manter um orgulho tão nobre nas cores do nosso país e revoltou-me o preconceito de se olhar para a Madeira como um pedaço periférico da nossa soberania. É que no Porto ou em Lisboa, Sr. presidente da TAP, eng.º Fernando Pinto, esta discriminação não tem lugar.

Retirada daqui