A voz do relatador televisivo disse o que a cabeça mandou: "O milagre começou!". A bola entrara na baliza do Gana, graças a um desastrado corte de um defesa africano: 1-0 para Portugal.
Cristiano já atirara o esférico à trave e já falhara um golo cantado, numa cabeçada que o guarda-redes do Gana sacudiu quase por instinto. Já sabemos de ciência certa que, no desespero e no perigo, as pessoas clamam pelo milagre, chegam a acreditar nele, porque essa é a única forma de conseguirem sobreviver ao peso imposto pela realidade.
Esse desespero estava todo na frase - disparatada, claro, mas entendível naquele contexto - proclamada pelo relatador, o mesmo que viu uma coisa desenhada "a regra e esquadro" (sic) num centro torto feito por Miguel Veloso.
Bem espremida, a prestação da seleção nacional resumiu-se a uma mão-cheia de nada e outra de coisa nenhuma. Os jogadores foram, com pouquíssimas exceções que confirmam a regra, frouxos e incapazes; a equipa técnica foi tristemente incompetente (a insistência nos equívocos é de bradar aos céus); os dirigentes máximos da Federação, a avaliar pela conferência de Imprensa de Humberto Coelho, começaram a sacudir a água do capote aos primeiros sinais de tormenta... Não podia resultar qualitativo o cozinhado feito com estes ingredientes de qualidade muito discutível.
Não há muito tempo para lamber as feridas e atirar as pedras escondendo a mão. Em setembro, começa a caminhada para o próximo campeonato da Europa, pelo que, quem ficar terá de estugar o passo para recuperar o que é recuperável e atirar para o lixo o irrecuperável. Nova peregrinação, a cujo final convinha não chegar, outra vez, com o credo na boca.
Albert Einstein dizia que só há duas maneiras de viver a vida: "uma é vivê-la como se os milagres não existissem; a segunda é como se tudo fosse um milagre". No futebol como no resto, em Portugal tendemos a achar que tudo pode ser resolvido por um "milagre". É um bom barómetro da fé que nos move para derrogar as leis da natureza...
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