DEIXEM-NO CALADO!
Se há coisa que eu não compreendo é a incomodidade de tanta gente quando Cavaco Silva se remete ao silêncio, ainda que por poucas horas.
Acredito que vejam em algumas das suas frases um forte contributo para a nossa boa disposição.
Mas, na maior parte das vezes, após os seus discursos, eu, que nunca votei nele, sinto-me deprimido.
Nem imagino como se sentirão aqueles que sabem que o ajudaram a eleger.
Ouvir o “seu” Presidente da República dizer, várias vezes, no mesmo discurso, “os cidadões”, ou “isso é coisa que nunca fiz, não faço nem façarei”, não deve ser agradável.
E se nos improvisos é mau, quando lê… não é melhor.
No dia de Camões, em 2007, Cavaco tinha de ler a primeira estrofe de “Os Lusíadas” (o tal livrito que ele não conhecia quanto mais saber quantos Cantos tinha…) após o que outras personalidades se seguiriam até terminarem a leitura de todo o livro.
Embora quase todos os miúdos que passaram pelos liceus saibam aquela estrofe de cor, o presidente tropeçou em “Taprobana”, que acabou por baptizar com um palavrão algarvio qualquer, e depois corrigiu Camões lendo "E entre gente remota identificaram (Camão escreveu, como se sabe, “edificaram”) / Novo reino que tanto sublimaram."
Se os seus conhecimentos de literatura portuguesa são estes – um desconhecimento total da obra maior em Portugal – seria do mais elementar bom senso que não o deixassem falar sobre as estrangeiras.
Só que os seus assessores não têm isto em conta e depois lá vem um discurso em que Cavaco Silva consegue descobrir que o romancista, prémio Nobel em 1929, Thomas Mann, conseguira aquela distinção por ter escrito “Utopia”.
O verdadeiro autor, Thomas More, só não lhe moveu um processo por dois motivos: em primeiro lugar porque morreu em 1535 e depois porque não quereria nada com tribunais atendendo a que foi mandado decapitar por um deles.
Mesmo no dia-a-dia, em conversas informais, Cavaco Silva consegue ser um embaraço para os portugueses.
Numa recente viagem à China, em visita à Cidade Proibida, quando soube que os Imperadores tinham “entre 15 e 55 concubinas” mostrou-se surpreendido e pouco invejoso. “Se uma já é o que é!...”, desabafou.
Desabafou e com razão se nos lembrarmos de que a D. Maria o convenceu, segundo relato do próprio, que o êxito da sétima avaliação pela troica se devia a “uma inspiração da Nossa Senhora de Fátima a 13 de Maio”.
Imaginem se o Presidente vivesse rodeado por 15 a 55 Marias…
Pior só mesmo quando decide dar conselhos.
Lembremos alguns:
A uma mulher (“cidadoa”?), que lhe confidenciava que andava à procura de comida no lixo, disse repetidamente: “Vá a uma Instituição de Caridade. Mas que não seja do Estado!”
Numa Conferência, na Faculdade de Economia do Porto, fez uma pergunta e deixou a resposta: “Como nos vamos livrar dos funcionários públicos? Reformá-los não resolve porque deixam de contar para a CGA e diminui as receitas de IRS. Só resta esperar que acabem por morrer.”
Numa entrevista à RTP afirmou que “A Bolsa de Lisboa está a vender gato por lebre” o que provocou uma enorme queda do valor das acções.
Daí que eu pergunte, de novo, porque é que há tanta gente a querer que ele fale, comente, opine?
Verdade que ele calado não é melhor (como se viu na cerimónia do içar da bandeira que ele conseguiu levar até ao cimo do mastro… ao contrário).
Mas, ainda assim não é tão grave.
Quem não estará de acordo com esta minha análise é, sem dúvida, a sua alma gémea, Cristiano Ronaldo (por alguma razão foi condecorado com uma altíssima distinção), que com ele se entende às “mil maravilhas” naquela linguagem própria dos VIPs portugueses.
Lembram-se do convite que o capitão da Selecção fez ao presidente?
Foi assim: “Convidamos você a vir ver o jogo, tá?”
E ele foi.
O problema é que… voltou!
Dê Moníaco, no jornal 'Região Bairradina' de 11 de Junho de 201
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