A Juve Leo celebrizou em 2002 um cântico de êxtase. "Só eu sei porque não fico em casa..." transformou-se num pedaço de banda sonora de celebração sempre e quando o Sporting obtém sucessos, mais ou menos ocasionais.
A estrofe é adaptável a múltiplas situações exteriores ao círculo de Alvalade. Em certos casos, como o das eleições europeias, pode no entanto induzir pensamentos erróneos.
Afinal, a troca do sofá e do convívio entre quatro paredes não é indicativa do exercício do direito/dever de votar. Como na história da pescada, as eleições europeias confirmaram todas as suspeitas: a maioria dos portugueses esteve-se nas tintas para a escolha nas urnas dos seus 21 representantes entre 751 no próximo Parlamento Europeu, permutando o exercício da preferência por um passeio à beira-mar ou pelos corredores dos centros comerciais. "Que se lixem as eleições!" foi a palavra de ordem orientadora.
Sintomático de indiferença e na antítese do protesto ativo pela via dos votos nulos ou brancos, o abstencionismo nas eleições europeias é tanto mais preocupante quanto o país vive há três anos um figurino de protetorado e subjugação aos ditames do FMI e de duas entidades europeias - o BCE e a Comissão Europeia -, as quais manterão por muitos anos o protagonismo e o poder decisório-condicionante da vida dos portugueses.
Porque marcada por paupérrimas ou nenhumas ideias e diatribes de baixíssimo nível dos principais candidatos ao Parlamento Europeu, a pior campanha eleitoral de que há memória no pós-25 de Abril não ajudou em nada à mobilização dos cidadãos. É verdade. Devia no entanto bastar a degradação das condições de vida, sobretudo dos últimos três anos "troikistas", para que os portugueses tivessem recusado a indiferença.
Legitimados os novos representantes do Parlamento Europeu pela pior das vias - elevado abstencionismo -, seguem-se, como sempre, leituras políticas de cariz oportunista, enviesando-se mesmo os resultados.
Infelizmente, o discurso tradicional dos partidos políticos trará mais do mesmo. Pior será manter-se também a dialética de uma parte substancial de portugueses, sempre dispostos a protestar à mesa do café, mas incapazes de participação ativa nas eleições. Os indiferentes ainda não perceberam o cometimento de um erro crasso: levam por tabela com as decisões dos representantes da minoria votante.
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