Os suíços têm a (salutar) mania dos referendos.
Cem mil cidadãos bastam para nas urnas se sufragarem decisões às quais ficam vinculados os vários patamares de governação. O que se há de fazer? Os suíços levam à letra princípios primários de democracia. Embora endinheirados, se comparados à esmagadora maioria dos povos, não estão dispostos a passar um cheque em branco capaz de alimentar balelas governamentais.
Obviamente defendidos pelas centrais sindicais e partidos de Esquerda, os argumentos favoráveis à institucionalização de um salário mínimo, até agora inexistente, radicavam, imagine-se!, no objetivo de reduzir a pobreza e o dumping social; em última análise, funcionaria como um tampão à imigração em áreas como a hotelaria, restauração, agricultura, cabeleireiros e atividades afins, todas elas pouco atrativas para os cidadãos da Suíça. Em contraponto, as confederações patronais e os partidos de Direita esgrimiam, entre outros, o mais simplório escudo protetor - o sistema livre de mercado.
Uma das mais baixas taxas de desemprego da Europa (3,3%) ajudou, com certeza, ao voto contra a imposição de um salário mínimo, mesmo considerando-se estar subjacente mais um movimento anti-imigrantes. Dir-se-á, até, ser mais fácil recusar uma garantia sempre e quando os trabalhadores suíços dispõem de uma invejável zona de conforto material.
O resultado do referendo, em última análise, permite retirar a conclusão mais primária mas, ainda assim, verdadeira: a maioria dos suíços não alinha no exagero. Um salário mínimo como o proposto representaria um ganho recorde mundial de 18 euros por hora, mais do dobro do praticado no país cujo salário mínimo é até agora mais elevado (o Luxemburgo) e traduzido em 7,76 euros por hora, 1921 euros/mês. Todo um contraponto, aliás, com a pobreza representada por 2,90 euros/hora praticados em Portugal para se chegar a um salário de 485 euros.
Há sempre riscos quando se procede a comparações.
O drama - termo inapropriado? - é, apesar de tudo, chegar--se à conclusão (triste?) de que a fixação de um salário mínimo não passa de mero ato burocrático, demasiadas vezes incumprido. Mesmo levando em conta a desigualdade de custo de vida, vale mais fazer um "gancho" de algumas horas por dia na Suíça do que trabalhar de sol a sol em Portugal.
Retirada daqui