quinta-feira, 1 de maio de 2014

HOMENAGEM AOS COLEGAS DE CURSO QUE PARTIRAM


Três décadas depois de deixarmos Coimbra,
estamos aqui de novo,
num reencontro que a muitos só agora voltou a ser possível.

A alguns outros,
(felizmente poucos),
encarregou-se a lei da vida de os impedir de aqui estarem entre nós.

A morte,
essa doce irmã do sono que,
como a definiu Agostinho da Silva,
deve,
como o som e a cor,
ser falsa, exterior e passageira,
é aquela realidade dura que, como Zeca Afonso a cantou,
sai à rua num dia assim,
num lugar sem nome,
p’ra qualquer fim…

É a sua crueza que nos faz perceber
que para tudo há uma ocasião certa,
e que para cada propósito
há um tempo certo
- até para a morte!

Sim!
Qualquer laico sabe
que há um tempo de destruir e um tempo de construir,
um tempo de chorar, e um tempo de rir,
um tempo de procurar, e um tempo de desistir;

Também os ignotos sabem
que há um tempo de rasgar e um tempo de coser,
um tempo de calar e um tempo de falar;

E até os insensíveis sabem,
que para além de um tempo de ódio, de luta e de morte,
há também um tempo de amor, de cura e de vida em paz;

Todos sabemos, enfim,
que há um tempo de nascer e um tempo de morrer,
e foi com a ciência que aprendemos que afinal, não viemos do pó;

E quando os nossos espíritos navegarem
por límpidos mares de luz nunca dantes navegados,
estaremos então,
a caminho de nos transformarmos em pó.

E nesse momento de festa e de comunhão,
elevaremos bem alto os cálices,
evocaremos os gregos Baco e Dionísio,
esses olímpicos deuses do vinho, das festas e da diversão,
e brindaremos,
felizes, à amizade dos Colegas que partiram, é certo,
mas que espiritualmente permanecem entre nós,
porque a morte levou-os desta vida
mas não apagou a sua memória…

(Jorge Mendonça)