UMA FIFA PARA CADA ACTIVIDADE
Há por aí muito politicozinho revoltado contra a decisão da FIFA e UEFA, os organismos que mandam no futebol, proibirem que os governos e os tribunais dos países associados se intrometam na gestão, nas leis, nas decisões jurídicas, ou em qualquer outra coisa que diga respeito a esse jogo.
Não fosse o caso de se saber que a não aceitação desta norma impediria quer as equipas nacionais quer a própria selecção de disputarem jogos internacionais promovidos por aqueles organismos, e qualquer secretário de Estado já a teria alterado.
Um desgraçado de um primeiro-ministro - mesmo que conseguisse baixar todos os impostos, acabar com o desemprego, promover o ensino gratuito até à formatura e mestrado de todos os alunos, eliminar as taxas moderadoras nos hospitais, aumentar o salário mínimo nacional para 1.500 euros mensais – seria deposto um minuto depois de, entrando em guerra com a FIFA ou UEFA, visse o Benfica, o Porto ou o Sporting impedidos de jogar nas competições europeias.
(E que vergonha que eu sinto ao dizer que também ajudaria nessa destituição!!!)
No entanto, aquilo que pode parecer um complexo de superioridade dos “dirigentes futeboleiros” acaba por se mostrar uma medida acertadíssima e, quiçá, digna de ser seguida noutras áreas.
O profissionalismo demonstrado pela indústria do futebol não tem paralelo em qualquer outra actividade a nível mundial.
Uma multidão de dirigentes, todos pagos a peso de ouro, consegue impor regras, à primeira vista consideradas impossíveis, em praticamente todo o planeta.
O caso do Brasil é um exemplo.
Depois da tomada de posse de Lula da Silva os grandes investimentos tinham, como base, a luta contra a exclusão e a tentativa de reduzir as diferenças abissais entre classes no país.
Foram construídas, nos seus mandatos, centenas de escolas e hospitais, bairros sociais e orfanatos, asilos e creches.
E a actual presidente (ela gosta que lhe chamem “presidenta” mas isso é porque foi sempre má “estudanta” e tem o seu quê de “ignoranta”) começou por seguir esta política.
Mudou essa prática quando conseguiu que o Brasil organizasse o Mundial de Futebol de 2014.
A partir daí grande parte das decisões políticas passaram para as mãos da FIFA.
Para muitos esta só indicou os estádios que deveriam ser construídos. A realidade, porém, é muito diferente.
Decidiram, também, quais os aeroportos que deveriam ser remodelados (e como) para poderem receber dignamente, e em segurança, todos os aviões com passageiros para os jogos, as estradas que os ligam aos estádios, os hotéis, os hospitais e postos médicos.
Não houve, praticamente, ministério que não tivesse de se rebaixar às ordens dos homens do futebol.
Muita gente se revolta contra este poder.
Eu acho fantástico.
Vejam o caso de Portugal.
O nosso Governo está proibido – tal como os outros – de se imiscuir na gestão do futebol.
O máximo que os governantes poderão conseguir é entregar umas taças aos vencedores das provas oficiais quando o presidente da Federação autorizar.
Vejamos os resultados:
O nosso pequeno país, atrasado em TODAS as outras áreas, é, no futebol, um exemplo de sucesso.
Sendo dos mais pequenos países do mundo vê a sua selecção nacional no 4º lugar do ranking mundial.
Tem o melhor treinador do mundo (José Mourinho), o melhor jogador do mundo (Cristiano Ronaldo), o melhor treinador de sempre em África (Manuel José, no Egipto), o melhor agente desportivo (Jorge Mendes), o melhor árbitro do mundo (Pedro Proença), dos melhores médicos desportivos do mundo (os jogadores que se lesionam por essa Europa fora, mesmo quando ao serviço das melhores e mais ricas equipas, é a Portugal que se dirigem para serem operados) e, até, o melhor roupeiro do mundo (o Paulinho, um exemplo de sucesso do Sporting, equipa que transformou um jovem deficiente num homem de sucesso).
Se houvesse uma FIFA para cada actividade da nossa vida…
Dê Moníaco, no jornal 'Região Bairradina' de 14 de Maio de 2014
