O fim do armistício entre alas desavindas do Partido Socialista estava há muito escrito nas estrelas.
O cinismo (e o calendário) foi preponderante nas várias concertações ensaiadas nos últimos três anos para fazer de conta estar desarmadilhado o poder saído de uma estrondosa derrota eleitoral após o pedido de socorro internacional para salvar o país da bancarrota.
Os novos "oficiais" do PS, encabeçados por António José Seguro, conviveram com um campo minado, ou não exista um grupo parlamentar formatado segundo o ADN anterior.
O resultado pírrico da liderança de António José Seguro nas eleições europeias caiu como sopa no mel dos aspirantes à (re)tomada do poder no PS. Trata-se do último argumento capaz de os fazer suspirar com a governação após as legislativas de 2015, e daí à entrada em pista de António Costa - ainda nem há um ano reeleito presidente por quem confiou nele para governar a Câmara de Lisboa por quatro anos.
De tão básico, mete dó o modo como se tentam encontrar argumentos sofisticados para o derrube de António José Seguro, um dos quais é de todo em todo música cantada aos ouvidos dos mais incautos: a consciência de que o país, reverencial e agradecido, precisa de quem se disponibilize para o governar bem.
A atual luta no interior do Partido Socialista, de facto, tem na sua génese uma base simples, mas de inconveniente divulgação: a de saber quem, de entre os ilusionistas, é mais capaz de convencer os portugueses em legislativas. A atual discussão faz-se entre o vozeirão e o aspeto de pegador de touros de António Costa e o silabar fininho e semblante meio enjoado de António José Seguro. Pouco, muito pouco, para do Partido Socialista se esperar uma verdadeira alternativa.
O debate no PS, em traços gerais, faz-se na expectativa de faturação nas urnas de vendedores de um mesmo produto - pouco apelativo. E esse é o ponto.
António Costa e António José Seguro são parte, curiosamente, de um dos poucos partidos da área socialista com um resultado positivo nas últimas eleições europeias. Com o mal dos outros podem bem os portugueses, é certo, mas dever-se-á exigir uma reflexão mais profunda sobre as causas para o definhamento das hostes.
A social-democracia e o socialismo democrático não dispõem, hoje, de qualquer projeto alternativo às políticas liberais e restritivas. Enveredaram por vias de extravagância - a terceira via de Tony Blair, por exemplo... - e acabaram exaustos como projetos políticos.
Falar mais grosso não basta. Enquanto a social-democracia e o socialismo democrático viverem sem rumo, os respetivos líderes falam, falam, falam, mas na hora da verdade vergam-se aos ditames da moda. Hollande ou Renzi são os casos mais recentes.
Por estas e por outras é que a discussão em torno do duelo entre António José Seguro e António Costa não passa de um "fait divers" destinado a apenas garantir a distribuição de benesses entre os apaniguados de ambos os lados.
Na hora da verdade, um e outro não serão capazes de dar o grito do Ipiranga. Farão o mesmo.
Retirada daqui