quarta-feira, 30 de abril de 2014

RECADOS DE ABRIL

Esperava-se mais das comemorações dos 40 anos do 25 de Abril

Alguns perderam juízo e a oportunidade de reflexão sobre o evento cujo perfume  há muito morreu. Alguns continuam a reclamar-se donos de Abril, outros esqueceram o que houve de bom, a liberdade (de expressão e não só), o voto livre, a Democracia, sempre titubeante.

Ninguém ousou fazer a história verdadeira do acontecimento maior que, passados poucos dias, era capturado pelo PCP. A história não é aquela que, em muitos casos, muitos dos que, nascidos após 25A, hoje apregoam na Assembleia da República, Assembleias Municipais e manifestações. 

Ficam pela poesia dos cravos, não sabem ou não querem saber os riscos e os perigos que a Democracia sofreu, quem a salvou e qual a génese do movimento dos capitães, a reivindicação salarial e a psicose dos mísseis strella e sobretudo dos Migs russos, que começaram a ser utilizados na guerra da Guiné, a fazer estragos de monta nas nossas fileiras que não dispunham de material capaz de suster aquele salto na guerra, com as suas consequências. 

Foi tudo muito lindo, até que, poucos dias depois, chegava o processo revolucionário em curso, com tudo o que de mau foi acontecendo, precipitando o país para uma guerra civil. Cantam-se os cravos, branqueia-se o resto. Como então houve várias revoluções, também houve, desta feita, várias comemorações, paralelas, marcadas por divisões, ameaças e gasta falação. Não se fez a história do passado. 

Tão pouco se perspectivou uma estratégia de futuro. A oposição perorou sobre tudo e sobre nada. Restaram os chavões, a crispação, a chispa habitual. Foram comemorados vários 25A. Uns na Ar, outros no Largo do Carmo, os que nunca podem estar calados, o que querem é palco, com Mário Soares, no seu estilo arruaceiro e irresponsável, abaixo o governo, a abraçar Otelo e com Vasco Lourenço, o da antiga melena, a atacar o governo: “ou muda urgentemente ou tem de ser apeado”. Por quem, não disse. 

Contrariou mesmo Cavaco que criticou a política de “vistas curtas” e apelou ao consenso. Resta saber se alguma vez os rapazolas do PS e do PSD o desejam de verdade. Conclusão: Abril está longe de cumprir-se, está esgotado e não sei mesmo se não será mais justo comemorar o 25 de Novembro que, recuperando Abril, colocou o país nos carris da Democracia. 

Ainda que hoje muito trôpega.

Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 30 de Abril de 2014