segunda-feira, 14 de abril de 2014

A DRA ASSUNÇÃO NÃO TEM INICIATIVA NEM JEITO; O CORONEL VASCO NÃO TEM CALMA

Em Portugal de tudo se faz drama. O último é que os militares da Associação 25 de Abril não podem falar na sessão comemorativa da data, sessão dos 40 anos.

Ora, que me lembre, até agora os militares não falavam (a exceção era Marques Júnior, militar de Abril, que era também deputado do PS e era nessa qualidade de representante do povo que usava da palavra).

Põe-se a questão, numa data como esta, perfazendo 40 anos, poder-se-ia abrir uma exceção? Claro que sim. O Parlamento há de ter poderes para, querendo, convidar um orador. E esse convidado deveria ser um militar? Provavelmente, porque foram eles os autores materiais do 25 de Abril (eu não sou daqueles que esqueço que antes dos militares, milhares de civis, desarmados, lutaram anos a fio, sofrendo prisões e torturas; milhares de estudantes protestaram nas ruas; milhares de trabalhadores puseram em causa o seu emprego, há, pois, mais gente, além dos militares, a quem agradecer a liberdade, por toda a simpatia que se tenha - e eu tenho - pelos homens do 25 de Abril, sobretudo pelos que fizeram igualmente o 25 de Novembro, como é o caso de Vasco Lourenço).

Posto isto, que devia ter feito a presidente do Parlamento? Convidar um militar para falar. Esse militar teria, obrigatoriamente de ser o presidente da Associação 25 de Abril? Se ela tivesse iniciativa e pensasse a prazo, chegaria à conclusão que poderia convidar outros militares, digamos, menos 'comicieiros', para em breves palavras poderem recordar aquela manhã de liberdade e nomes como os de Salgueiro Maia, Melo Antunes, Vítor Alves, Marques Júnior.

Mas Assunção Esteves não teve esse golpe de asa. E saiu-se com uma tirada infeliz.

Vasco Lourenço (e eu tenho esta sina portuguesa de ser amigo e considerar os dois) também procede de forma errada, a meu ver, ao não pôr os pés no Parlamento. Já critiquei Mário Soares (outro de quem não só sou amigo, como reconheço nele um dos grandes vencedores da liberdade em Portugal) por não ir a estas sessões desde que o Governo não é da sua simpatia. 

O Parlamento é a casa da democracia. Foi para nele estarem representados todos os portugueses - da mais esquerda à mais direita - que o 25 de Abril foi feito na essência. Como bem explica hoje na sua crónica do Expresso Miguel Sousa Tavares, o essencial do 25 de Abril é a liberdade. Foi pela liberdade que todos esperámos e é a liberdade que a estes militares e aos civis já referidos devemos. Não ir ao Parlamento, como faz Vasco Lourenço e outros, não é renegar Assunção Esteves, o Governo e a maioria que lá está provisoriamente.  

É afrontar uma instituição que é de todos e que todos deve representar.

Felizmente, tem havido gente de todas as áreas que compreende estes princípios. E que por isso não faltam. Era o que Vasco Lourenço, mesmo em silêncio, devia fazer. Seria certamente ovacionado por muitos deputados e, cá fora, podia dizer então o que lhe vai na alma.

Mas a iniciativa e jeito que faltaram a Assunção Esteves está na razão direta da calma que falta a Vasco Lourenço. E é pena.

Henrique Monteiro, aqui