quinta-feira, 6 de março de 2014

NÃO HÁ NADA MAIS PRECIOSO DO QUE UM AMIGO

Como na altura não havia Direito no Porto, ele foi estudar para Coimbra onde encontrou as grandes paixões com que atravessou a vida: a busca da Justiça, o Jornalismo e a Manuela, a mãe dos seus dois filhos, a Mariana e o João. 

Creio que a outra paixão, a da Política, já a trazia do Marco. Foi algures no início dos anos 80 que nos conhecemos na Redação do "Comércio do Porto", onde ele aproveitava parte das férias grandes para praticar intensivamente o jornalismo onde se começara a viciar no escritório da ANOP, em Coimbra, com o António Marinho, mais tarde conhecido por Marinho e Pinto.

O jornalismo a tempo inteiro, no "Comércio", foi a sua opção, quando acabou o curso. Não tardou a dar nas vistas. Por altura do Natal do ano da nossa entrada na CEE, trouxe-nos de prenda um escândalo de corrupção na PJ com os ingredientes todos, polícias corruptos, subornos, sedução e sexo. A intriga era tão boa que até a aproveitaram para uma telenovela.

Éramos então jovens, ele tinha 26 e eu 30, e aquele era o nosso Watergate. Ele era uma mistura de Bob Woodward e Carl Bernstein (mais este do que aquele). Eu fazia, a meias com o Rogério Gomes, as vezes do Ben Bradlee, o editor-chefe do "Washington Post" durante a investigação que levou à queda de Nixon. O epicentro do escândalo não era a sede do Partido Democrata, em Washington, mas o quartel-general da PJ do Porto, no número 12 da Rua de S. Bento da Vitória. Já perceberam por que é que batizamos o caso de Sãobentogate.

Ficamos amigos, a tempo inteiro. Ele era mais ciclismo que futebol. Uma vez que fomos juntos às Antas, passou a primeira parte a queixar-se de que o Porto não estava a jogar nada. No intervalo, descobri que estava a confundir as equipas, pois o adversário, penso que o Vitkovice, equipava de azul e branco.

Por volta da uma da manhã, depois de verificarmos se estava tudo em ordem nos primeiros exemplares do jornal saídos da máquina, íamos para o Splash beber umas cervejas (e ouvir as piadas do Óscar Branco) - ou para o Paju comer umas tripas, enquanto planeávamos a edição do dia seguinte.

Não gosto muito de olhar para trás. Mas agora, que me estou a despedir de um amigo, não consigo deixar de recordar com saudades aquela Redação de que o Coutinho Ribeiro foi a estrela que mais brilhou numa constelação de que faziam parte o João Queirós, Manuel Queiroz, Abílio Ferreira, Manuel Serrão, Juca Magalhães, António Catarino, José Miranda, José Carlos Sousa, Ricardo Pereira, Joaquim Fonseca, João Bonzinho, Raposo Antunes, Filomena Fontes, Jorge Barbosa, Isabel Jones, Carlos Santos, Mário Augusto, Mário Dorminsky - e também o Jorge Sousa e o António Soares (que reencontrei no JN) e tantos outros a quem peço desculpa por não nomear.

Peço também desculpa por tratar aqui de assunto tão pessoal como a evocação do meu amigo Coutinho Ribeiro, de quem me estou a despedir. Mas não podia fazer outra coisa. É que na terça-feira perdi um amigo - e coisa mais preciosa no Mundo não há.

Jorge Fielaqui