sábado, 8 de março de 2014

CRÓNICAS DO INFERNO


MAS JÁ CHEGÁMOS À MADEIRA?

Quando há algo de inesperado em Portugal (e se é difícil, neste país, haver algo que ainda nos surpreenda…) costumamos fazer esta pergunta: “Mas já chegámos à Madeira?

Na realidade esta ilha conseguiu ultrapassar, no que respeita ao esoterismo, a cidade do Entroncamento.

Quem ler, com atenção, as notícias que chegam do Funchal fica sempre com uma dúvida: a vida na Madeira é muito mais barata do que no resto do país ou, pelo contrário, a insularidade leva a que tudo seja incomensuravelmente mais caro?

O grupo que escreve “Má Despesa Pública”, e que tanta dor de cabeça provoca a algumas figuras (e a muitos figurões) da nossa vida política, tem dado a conhecer dezenas e dezenas de situações extraordinárias ali vividas. Mas, ao contrário do que seria legítimo pensar, estes casos só aumentam a nossa dúvida em relação à questão acima. 

É certo e sabido que quem chega do Continente pode, a exemplo do que aconteceu com um Procurador-Adjunto da República, “ficar estupefacto, envergonhado e horrorizado” com algumas situações.

À secretária deste Magistrado, por exemplo, tinha chegado o caso de um deputado que se “instalara num hotel, pedira coisas na piscina, em fato de banho, à custa da subvenção que também serviu para pagar gincanas de carrinhos de madeira e 65 viagens áreas entre o continente e Madeira, sendo que 34 dessas aconteceram num só dia…”

Se o Magistrado ficou em Estado de choque (como qualquer “cubano”, diria o Dr. Jardim!), o mesmo não aconteceu com o presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, Miguel Mendonça, que garantiu a este respeito: "esta é uma questão recorrente e as pessoas indiciadas não devem perder o sono por causa disso".

E foi dormir tranquilamente enquanto o Magistrado fazia serões a concluir a acusação. Que, claro, não vai dar em nada!

Quem não sei se conseguiu dormir bem foram os responsáveis pela derrapagem financeira, de 5 milhões de euros, detectada pelo Tribunal de Contas, na construção das 'Infraestruturas Gerais do Madeira Tecnopólo - 3.ª fase”.

O Tribunal considerou que a “culpa não podia morrer solteira” (onde é que eu já ouvi isto?) e resolveu multar estes infractores.

Foram condenados ao pagamento de “1.575 euros para se extinguir o procedimento tendente à efectivação da responsabilidade sancionatória".

É para aprenderem que sempre que se abotoarem com cinco milhões vão ter de pagar, de multa, 1.500 euros. Que lhes sirva de exemplo e nunca as mãos doam a estes juízes do Tribunal de Contas. 

“Abençoados” como diria a minha avozinha!

Para esquecer estas perseguições ignóbeis da Justiça Portuguesa os homens fortes da Madeira resolveram descansar, com as famílias ou organizar umas festazitas… atractivas.

Um senhor ex-secretário regional, que votara contra a venda de uma espectacular residência na Ilha do Porto Santo, que poderia render, ao Governo, entre seiscentos mil e um milhão de euros, resolveu utilizá-la, em férias, na companhia da esposa, filha e mais dois familiares, pagando dez euros por dia de renda. A casa tem piscina, campo de ténis e acesso directo à praia.

Quem optou por ficar na cidade beneficiou de um cocktail da Secretaria Regional da Cultura, Turismo e Transportes na última Bolsa de Turismo de Lisboa, que custou uns módicos 15.190 euros. 

Muita gente ficou arrependida por ali se ter deslocado já que este ano, ao contrário do que acontecera em 2011, não foram contratadas manequins para embelezar o jantar. E tudo para pouparem uns míseros 34.977 euros.

Espero bem que estas medidas de poupança não impeçam a festa de arromba que certamente se fará quando for a inauguração da última rotunda da Calheta que ficou por meio milhão de euros.

Ou já chegámos à Madeira?


Dê Moníaco, no Jornal 'Região Bairradina' de 5 de Março de 2014