quarta-feira, 19 de março de 2014

A MAGIA NEGRA DO AVIÃO DESAPARECIDO

À minha volta, tenho meio mundo fascinado com a estória do desaparecimento do avião nos mares da Malásia. Amigos, mulher e mãe não se calam com o assunto

Durante muito tempo não percebi a razão do interesse, mas, depois de ver uma coboiada de John Ford ontem à tarde, acho que já consigo explicar o apelo do thriller aeronáutico. 

O fascínio que sentimos por um western ou por um filme de aventuras nasce no mistério do espaço por explorar. Num filme de piratas, por exemplo, os Pérola Negra andam por mares nunca dantes navegados. 

Estes filmes remetem-nos para um tempo em que não tínhamos o planeta na palma da mão, uma era em que a geografia ainda era superior à tecnologia, uma época de ilhas desertas, selvas intactas e mares nunca dantes navegados. Ora, a história da expansão da globalização tem sido a história do encolhimento deste mistério. 

O crescimento da nossa capacidade tecnológica encolheu o mundo, sim senhor, mas também encolheu a sensação de aventura. Os buracos negros desapareceram da geografia, o "mapa mundo", outrora imperfeito, é agora perfeito porque já é o "mapa do homem". 

É por isso que a estória do avião malaio está a criar uma emoção indefinível, uma sensação de estranheza. 

Sim, há aqui um vodu a atormentar as nossas cabecinhas 2.0: como é que um avião desaparece na nossa era? Com tantos radares e computadores, como é que um avião tem este sumiço pré-histórico? Com tanta tecnologia ao nosso dispor, como é que um objecto identificado tem o desplante de desaparecer como se fosse um barco de piratas? Com tantos satélites, como é que pode existir um buraco negro que escapa ao nosso controlo?

Como é que um avião desaparece na era da internet, da NSA, da comunicação instantânea, da suposta supremacia total da tecnologia do homem sobre a geografia? Afinal de contas, a grelha não é perfeita.  

Henrique Raposo, aqui