quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

REVELAÇÕES QUE NEM OS MAIS INCATOS SURPREENDEM

Óbvio para uns, inacreditável para outros, o que é certo é que na passada semana ficámos todos a saber que o município de Oliveira do Bairro ocupa um modestíssimo 160º lugar num ranking apurado no âmbito de um estudo elaborado pela consultora Bloom Consulting sobre o desempenho dos 308 municípios portugueses nas vertentes de ‘investimento’, ‘turismo’ e ‘talento’, as três dimensões que definem a marca de qualquer município.


Com esta classificação, Oliveira do Bairro é apresentado como sendo o município bairradino pior classificado atrás dos de Águeda (69º), Cantanhede (87º), Mealhada (101º) e Anadia (148º), surgindo numa posição nada abonatória entre os seus pares da Comunidade Intermunicipal de Região de Aveiro onde, para além dos de Águeda e Anadia, estão os de Aveiro (6º), Ovar (31º), Ílhavo (100º), Albergaria-a-Velha (142º), Vagos (154º), Murtosa (192º), Estarreja (195º) e Sever do Vouga (200º).

Este estudo, que se baseia em estatísticas oficiais e em buscas online por parte de investidores, turistas e cidadãos sobre cada município ou cidade, indicadores tidos como fiáveis para compreender o que as pessoas pensam, percebem e associam aos mesmos, analisa também variáveis como o número de novas empresas, as taxas de ocupação hoteleira, desemprego, criminalidade e poder de compra em cada um dos municípios em comparação com a média nacional.

Para melhor se perceber esta posição do município de Oliveira do Bairro, que em termos regionais configura a 45ª entre os 100 municípios da zona centro, basta referir que entre estes ocupa o 18º lugar para investir, o 36º para se viver e o 79º para fazer turismo, classificações estas que a nível nacional correspondem ao 84º lugar para investir, o 111º para se viver e o 238º para fazer turismo.

Quanto às classificações sobre investimento e o talento, que até são bastante satisfatórias, importa referir que as mesmas estão directamente relacionadas com a estratégica localização geográfica do território municipal, promotora de uma dinâmica industrial assente num conjunto de motivações muito importante que vão desde a proximidade a grandes centros urbanos e universitários como são os de Aveiro, Coimbra e Porto, e a uma boa rede de acessibilidades nacionais disponíveis como são a A1, o IP5, a A17, a estação ferroviária e o porto marítimo.

Já quanto ao último indicador, trata-se de um barómetro da actividade que, na área do turismo, (não) tem sido desenvolvida pelo poder municipal, o qual permite concluir que a política que tem conduzido os destinos do concelho desde 1976 tem ostensivamente ignorado que a história dos povos é relatada de forma física nas suas cidades, vilas ou simples lugares, representadas através dos seus monumentos, das suas ruas, praças, avenidas, jardins e de todos os seus edifícios de uma maneira geral, sem esquecer aquilo que é memória do passado.

Em resultado dessa (in)acção política, o que está à vista de todos é que a cidade de Oliveira do Bairro permanece confrangedoramente pobre no que diz respeito a atractivos turísticos, com um posto de turismo encerrado há anos, onde não existem roteiros turísticos nem medidas de apoio ao turismo, à restauração e à hotelaria, assim determinando que não cheguem sequer ao número dos dedos de uma mão o dos restaurantes de boa qualidade, uma exiguidade de propostas turísticas à qual acresce o facto de a parca oferta estar estruturalmente desorganizada para cativar clientela que dê alento ao comércio local.

Uma obra pública, seja ela qual for, até pode ser grandiosa; no entanto, o que faz com uma cidade seja turisticamente apelativa não é uma soma de obras magnificentes mas desarticuladamente semeadas no seu território, mas sim o facto de estas proverem esse espaço de equipamentos que acrescentem algo mais do que o estrito valor do seu custo, dotando-o de uma imagem de contemporaneidade afirmativa de uma urbe dinâmica e capaz de atrair investimentos e pessoas, de fomentar um crescimento inteligente que desenvolva uma economia baseada no conhecimento e na inovação, sustentável, promotora de uma economia de baixo carbono em termos de recursos, competitiva e inclusiva e por isso estimuladora de elevadas taxas de emprego, dessa forma assegurando a coesão social e territorial, o aumento das qualificações e a luta contra a pobreza.

Efectivamente, qualidade urbana é sinónimo da qualidade da maioria dos aspectos que caracterizam a vida dos cidadãos, numa extensão que percorre a qualidade da habitação, da segurança, da mobilidade, da fruição dos espaços, da socialização das pessoas, da qualidade dos sistemas de abastecimento, etc., e que dessa forma devolva o coração da urbe à cidadania e aos munícipes.

Lamentavelmente, ao cabo de quase quatro décadas de exercício do poder local ainda está por implementar em Oliveira do Bairro um plano estratégico para o desenvolvimento do turismo da cidade e do concelho, que antes de apontar para a criação de novas infra-estruturas aponte claramente para as mais-valias que já existem, contemplando uma visão estratégica supramunicipal que gira riqueza e promova o concelho duma forma geral e a sede do concelho de uma forma particular, gerando sinergias para criar a marca do concelho, um embrulho que ofereça as actividades, desse modo facilitando a tarefa dos eventuais interessados em investir na área turística.

É por isso que se Oliveira do Bairro estivesse abaixo do meio de uma tabela nacional pelo facto de os outros municípios serem melhores, tinha de se aceitar; mas já é absolutamente inaceitável que a ocupação desse lugar se deva a causa própria.

E ao que consta, esta é uma daquelas revelações que nem os mais incautos surpreende.

Publicado no 'Jornal da Bairrada' de 27 de Fevereiro de 2014.