É mesmo muito difícil admirar e promover o bem do nosso irmão, do nosso colega de trabalho, do nosso companheiro... mas é por aí que se começa a mudar o mundo
É-nos sempre mais fácil cuidar de quem não está próximo... tudo se passa como se não tivéssemos obrigação alguma de conquistar e cuidar dos que vivem mesmo aqui, connosco.
No polo oposto, encontramos relações que se anulam quando estreitam demasiado as distâncias, aniquilando as diferenças que eram a sua riqueza. É essencial que se reconheça ao outro o direito e o dever de ser quem é, de forma independente e autêntica, sem que ninguém nisso interfira.
Não gostamos mesmo nada dos profetas da nossa terra... não é nada fácil nem comum admitirmos que aquela pessoa que está ali, connosco, a cada dia é, na verdade, muito melhor do que nos habituámos a julgá-la. Como se o reconhecimento da sua grandeza nos diminuísse, quando, tantas vezes, o seu talento se deve também a nós... apesar de tudo!
Amar é aproximar. Fazer próximo quem está mais longe. Dar mais espaço a quem esteja demasiado perto. Criar laços de família. Fazer um caminho de vida em paz e harmonia, com quem segue ao nosso lado. Aceitando que haverá sempre cenários que, ao longe, nos parecem muito melhores...
A perda súbita de alguém próximo encerra, muitas vezes, a tragédia adicional de revelar a nossa culpa de não termos sido capazes de fazer o possível pela sua felicidade... só nestes cenários alguns se dão conta da beleza e da bondade de quem ali sempre esteve... investimos tanto tempo em coisas que não têm valor nenhum... roubando-o a quem o merece... privando-nos de ser melhores.
É mesmo muito difícil admirar e promover o bem do nosso irmão, do nosso colega de trabalho, do nosso companheiro... mas é por aí que se começa a mudar o mundo. Criando laços verdadeiros com quem nos é próximo. Entregando o melhor da nossa vontade aos que estão ao alcance da nossa mão.
Devemos prestar atenção às novidades dos que estão connosco, abrindo a nossa inteligência (e o nosso coração) à abundância singular que cada dia traz a cada vida... isto, em vez de nos deixarmos encantar e enganar por pessoas novas que, tantas vezes, pouco mais têm a seu favor do que o nosso desconhecimento da sua verdade...
Sonhamos encontrar alguém extraordinário, chegado de um céu qualquer, que nos dê acesso a uma felicidade sem dificuldades, uma espécie de perfeição pronta a viver.
Sonhamos que só assim chegaremos a ser quem somos... quando, na verdade, o nosso valor depende do que formos capazes de alcançar pela coragem do nosso esforço... a conquista é apenas o primeiro passo da longa, dolorosa e essencial caminhada do amor.
Importa derrubar as barreiras do egoísmo e ultrapassar as distâncias que nos separam dos que estão aqui. Abrir espaço e tempo ao amor.
Talvez nos desconforte que aqueles que nos conhecem, saibam o pior de nós... que não se deixem maravilhar pelas nossas qualidades... mas será que conhecem a nossa capacidade de os amar?
Proximidade não é invasão de intimidade... amar não é amarrar... é deixar ser e admirar.
Aperfeiçoar não é moldar à nossa imagem...
Amar é aproximarmo-nos e mantermo-nos próximos... vivermos juntos a aventura de ir dando as mãos e de assim ir crescendo... de mãos dadas. Procurando perdoar mais do que ser perdoado...
É preciso abrigarmo-nos uns aos outros no coração das nossas famílias, por menos normais que sejam... a família é aquela casa onde todas as portas estão todas abertas... onde há sempre respeito, mesmo quando o amor parece impossível.
José Luís Nunes Martins, aqui