terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O FOGUETÓRIO DE NOVOS AUTARCAS

O novo poder autárquico saído das eleições de 29 de setembro vive (ainda) em estado de graça mas o refrescamento resultante do voto está longe de não replicar vícios de uma classe política propensa a alijar responsabilidades. Mau augúrio...

As últimas autárquicas conjugaram alterações dos governos municipais por duas vias: pela punição pura e simples de mandatos desastrados ou pela saída imposta pela nova lei eleitoral autárquica a personagens há três mandatos (ou mais) no comando executivo de um mesmo concelho. 

Para todos os efeitos, o escrutínio, desta vez, permitiu o rejuvenescimento sem dar hipóteses de nas urnas validar-se, ou não, a ação política dos chamados dinossauros....

Embora obedecendo a novas e sadias regras limitativas, o esquema de legitimação democrática do novo poder autárquico baseou-se, apesar de tudo, em mandamentos básicos da ciência política: conhecimento e avaliação da governação em fim de ciclo, elaboração e comunicação de projetos-programas a chancelar pelo povo. E o normal seria que a orientação transmitida pela campanha eleitoral fosse tão-só o fio condutor dos novos empossados. Mas não.

Um pouco por todo o país, o balanço dos primeiros meses de responsabilidades de muitos dos novos autarcas tem-se pautado por comportamentos eticamente reprováveis. São discípulos de más práticas, começando cedo a alijar responsabilidades, atirando-as para os antecessores - os derrotados ou impedidos de ir a jogo na secretaria. Infelizmente, nada de muito original, tudo na senda, por exemplo, de sucessivos governos do país, lestos a trocar as promessas aos papalvos pela ideia de terem chegado a um mundo inesperado e dantesco, obviamente obra do poder substituído.

Uma maioria de novos eleitos, felizmente, tem sabido conjugar a ética e a prudência na condução dos destinos das autarquias para as quais foram sufragados. Há, no entanto, uma série de personagens já em estado de desculpa para anunciados falhanços dos comprometimentos públicos assumidos, juntando-lhes, de resto, algo tradutor do respetivo caráter: a tendência de uso sistemático da Comunicação Social para revelarem erros mais ou menos grotesco-humorísticos da governação ou mesmo hábitos e eventuais luxúrias do dia a dia dos seus antecessores. Todo um estilo dispensável.

Tanto no Poder Local, como no Poder Central, apenas são admissíveis duas fórmulas de punição para a má gestão: pela via do voto no âmbito estritamente político ou pela da Justiça sempre e quando se justificam denúncias de comprovado desbaratamento da coisa pública. O uso da simples intoxicação (autodesculpabilizante) é dispensável.

Os autarcas eleitos em setembro estarão à altura das responsabilidades recebidas se forem capazes de cumprir as promessas de campanha e colocarem em ordem "casas" recebidas em completa desarrumação. E se tiverem de apresentar queixas-crimes em tribunais... façam-no! Sem fogo de artifício.

Retirada daqui