segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

NABOS PARA O GOVERNO

Um protesto em Vila Real, às portas da Segurança Social (SS), deu-me o mote para a crónica desta semana em que havia vários assuntos: a praxe imbecil, (Universidade Lusófona), levada a cabo por uma espécie de seita secreta, com regras, juramentos e nomes em código, que levaram à morte, na praia do Meco, de cinco jovens, às ordens do chefe (dux) ou a praxe (violenta) aplicada a docente da Universidade do Minho por chamar a atenção de um grupo de alunos praxantes, o que nos leva a perguntar: que educação está o país a cultivar nas escolas, nas universidades?

Poderia, vir à baila, o baile que o governo montou a festejar a baixa do défice, a recuperação económica, a dívida a baixar, bem como os juros e o desemprego, tudo graças ao empobrecimento colectivo, ao esforço até às lágrimas dos portugueses. 

Hoje trazemos a agricultura familiar. O governo penaliza tudo o que mexe. Os agricultores ou produzem só para o auto consumo, ou quando os rendimentos ultrapassem 1.676,88 anuais, têm de se colectar e pagar à SS. É mais uma dessas medidas sem pés nem cabeça.

Mais uma machadada na agricultura familiar. Quando essa pobre gente o que ganha mal dá para pagar os gastos. Quando dá. E o seu suor? O protesto em Vila Real despejou à porta da SS couves, batatas, cenouras, vinhos, frutas, azeitonas e até um coelho para pagamento, em géneros, da contribuição mensal. 

E um repúdio às medidas do governo: “não aos nabos do governo”. Que quem é empresário agrícola, tenha escrita organizada e pague os seus impostos, justo, agora, Senhor, quem vai à praça vender o que lhe sobrou da horta para fazer mais algum ou quem vende às caves meia dúzia de almudes de vinho, tenha este tratamento tirânico, revela uma grande falta de sensibilidade para a classe mais pobre e maltratada que nem no tempo de Salazar, em que havia as décimas e não havia o IMI para as câmaras receberem verdadeiras rendas das casas dos outros. 

Por isso, é risível alguém, com responsabilidade na destruição da agricultura e das pescas querer, agora, sejam fomentadas de novo. Com que incentivos? 

Tendo nós o maior mar da Europa, não temos barcos, abatida que foi a maior parte da frota. 

É triste, não é?              

Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 30 de Janeiro de 2014