terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

ERA UMA VEZ...

A RAINHA DA FLORESTA
Era um lenhador. Passava o dia na floresta, a cortar árvores. Os filhos traziam-lhe o almoço que ele comia à pressa, para voltar, depois de uma breve sesta, ao seu trabalho. Era muito cansativa a vida dos lenhadores

Uma tarde, ia ele desferir a primeira machada numa grande árvore, quando ouviu conversar dentro do tronco. Estranhou. Espreitou. O tronco era oco e, lá dentro, dois velhos de longas barbas, um diante do outro, muito solenes jogavam às damas. 
- Não nos interrompas - disseram os velhos. 


O lenhador aguardou que tempos, entretido, ele também, a assistir ao desenrolar da partida, que nunca mais se decidia. 

A certa altura reparou que as barbas dos dois velhos tinham crescido imenso, enquanto eles jogavam. O lenhador, a medo, chamou-lhes a atenção para este estranho facto. Os velhos riram-se: 
- Passou-se mais tempo do que tu imaginas. 

De facto, a árvore estava maior e a floresta mais cerrada. Que teria acontecido? 

Sobressaltado, o lenhador voltou à aldeia, mas já não encontrou ninguém conhecido. A casa, a mulher e os filhos tinham desaparecido e ninguém se lembrava deles. 

O lenhador correu outra vez para a floresta e pediu aos dois velhos jogadores de damas que o acordassem daquele sonho mau. Aquilo não podia estar a acontecer-lhe. Era, certamente, um pesadelo. 

Os velhos concederam-lhe o que ele pedira, não sem antes o fazerem prometer que nunca abateria aquela grande árvore, no interior da qual eles jogavam um interminável jogo de damas. 

Quando o lenhador acordou, estava tudo como dantes. Afinal, sempre tinha sido um sonho. Mas, à cautela, o lenhador poupou a árvore, rainha da floresta.


António Torrado | Cristina Malaquias, aqui