quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

CRÓNICAS DO INFERNO

UMA LUTA ERRADA

Imaginem os leitores que, durante dez meses, este jornal vinha para as bancas… em branco. Sem um único artigo, uma notícia, um anúncio?


Os leitores esporádicos optariam por comprar um outro que cumprisse a sua missão de informar e formar (a não ser que estivessem loucos). 



Mas… e os assinantes?




Tinham pago, adiantadamente, por um serviço sendo que, depois, recebiam em troca algo completamente diferente do acordado e sem qualquer utilidade.



Desculpariam a empresa editora?



E se esta dissesse que o problema estava na greve dos jornalistas, colaboradores e restantes trabalhadores? 



Lembrei-me disso quando li que, em 2012, a CP tinha sido alvo de greves, nos diversos sectores, em 295 dias!



Nesse ano, portanto, a empresa só laborou “normalmente” 70 dias. Menos de dois meses e meio.



Durante nove meses e meio de 2012 os passageiros, que tinham pago antecipadamente o seu passe, foram, de algum modo, prejudicados por estas lutas.



Os passageiros e os trabalhadores. Não a companhia.



Esta, claro, até acabou por ser beneficiada com a forma de luta dos funcionários.



Recebeu o dinheiro correspondente às viagens normais, efectuou um número incomensuravelmente inferior, poupando no combustível, despesas de manutenção e outras, e não pagou os salários aos trabalhadores nos dias de greve.



Num país “normal” os passageiros exigiriam a devolução do dinheiro dos passes. Ou, no mínimo, a parte correspondente aos dias em que não puderam beneficiar dos serviços que pagaram.



Mas Portugal é um país de brandos costumes e duríssima burocracia. 



O que levou a que praticamente ninguém tivesse solicitado tal devolução. Ou porque não estiveram para mais incómodos ou porque sabiam que essa exigência, mesmo que fosse reconhecida pelos tribunais, obrigaria a um (grande) investimento inicial em custas e uma (ainda maior) demora numa decisão favorável. Que, para mais, seria sempre provisória já que a empresa não deixaria de recorrer para os Tribunais Superiores.



O que leva, então, a que os trabalhadores destas empresas, e os seus sindicatos, continuem com essas formas de luta sendo que sabem que o único beneficiado é aquele que eles pretendem combater?



Não seria mais curial, por exemplo, não pedirem os comprovativos de pagamento de viagem aos utentes?



Se um número considerável de passageiros começasse a viajar “de borla” provavelmente a Companhia passaria a encarar as reivindicações dos seus funcionários com mais cuidado.



Pensar que conseguem vencer uma qualquer luta, fazendo os responsáveis de uma empresa como a CP sentirem-se envergonhados por estarem a explorar aqueles que deveriam servir, é absolutamente pueril.



A luta pela obtenção do lucro, ou pelo combate ao prejuízo, não tem regras, quanto mais moral! 



Ameaçar com a ética quem tem como objectivo principal o dinheiro não dá resultado. Como está provado desde tempos imemoriais. 



Quem explicava isto bem, numa só frase, era Henry Ford, que ensinava: 



“Um idealista é alguém que ajuda outro a ter lucro”!

Dê Moníaco, no 'Região Bairradina' de 19 de Fevereiro de 2014