Há coisas
que o comum dos mortais não percebe: que um cantor, de tão altas famas,
Fernando Tordo, usufruindo de uma magra pensão de 200 euros, não tinha outro
remédio senão emigrar.
Foi a maneira que encontrou para dar uma bofetada no governo,
ao abalar para o Brasil, carregado com a sua viola, cheia de queixumes. Cantor
de Abril e dos poemas de Ary Santos, eles eram unha e carne, qualquer um sabe
que as pensões são definidas em função dos descontos feitos para a Caixa de
Previdência ou de Aposentações.
A culpa é assim dele e de mais ninguém, nem
governo nem país.
Não é caso único. Infelizmente, há
muitos tordos e muitas cigarras neste país. Casos destes não me comovem. Quando
muito, lamento.
Coisas que também não se percebem: que Relvas,
ao fim de seis meses de sossego, seja repescado por Passos Coelho para o
Conselho Nacional do PSD. Mais um tiro nos próprios pés, no último dia do Congresso. A votação
para a sua eleição que poderia ser histórica, logo se ressentiu. O que podia
ser um passeio para quem esteve presente, acabou por ser um banho de água fria,
um murro no estômago.
Mas foi também um sério aviso à navegação. Relvas não é
uma mais valia para o partido, é motivo de preocupação para muitos analistas,
como Marcelo Rebelo de Sousa, que animou com humor e boa disposição o encontros
dos sociais democratas, como para muita gente presente. Passos, por teimosia ou
falta de pontaria (também por tontaria!) gosta muito de dar tiros assim, às
cegas, sem visor. E logo em dia de festa maior.
Agora Coelho tem assegurados
outros tiros e a certeza da chocarrice da oposição. Maus trapezistas como
Relvas que Passos tentou gratificar pelas suas múltiplas habilidades, só podem
trazer ao partido mais dissabores, mas o primeiro-ministro é demasiado teimoso,
para umas coisas bem, para algumas muito mal.
Mas há coisas que não lembram ao
diabo.
Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 27 de Fevereiro de 2014