quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O FUTEBOLÊS DE PORTAS E MARIA LUIS

Faz parte da agenda de quase todos os clubes de futebol: os treinadores protagonizam uma conferência de Imprensa de antevisão a um ou dois dias dos seus jogos

E são raras as exceções a uma lengalenga espúria, do género "respeitamos o adversário, mas vamos lutar pelos três pontos contando com o apoio da nossa maravilhosa massa associativa". O cardápio do futebolês, de facto, finta as perguntas mais incómodas; não foge a respostas estereotipadas. 

E se é assim, por que carga de água acontecem as ditas-cujas conferências de Imprensa? Simples: a frente dos microfones e o cenário de fundo são zonas cobertas de publicidade e quem nela investe exige retorno, seja ele decorrente de fotografias nos jornais seja de imagens passadas nos canais de televisão. A banalidade, de resto, até pode ser boa para a concentração das meninges do recetor de mensagens num anúncio....

O caso dos "misters" dos clubes tende a espraiar-se por outras zonas de atividade.

Há ocasiões em que membros do Governo têm tiques de treinadores de futebol, embora o interesse pela tentativa de convencer o povo da bondade das suas políticas substitua um cartaz patrocinador. E ontem foi um desses dias.

Acolitados por Carlos Moedas, o cuidador do programa internacional de assistência financeira a Portugal, Paulo Portas e Maria Luís Albuquerque protagonizaram uma conferência de Imprensa destinada a revelar o resultado da 10.ª avaliação da troika. O óbvio, só o óbvio, fez parte do discurso: a avaliação "foi tranquila", o país "passou no exame" e já só faltam duas avaliações para "recuperar uma parcela de soberania". 

Novidade? Nenhuma!, sobretudo se se tiver em conta a impossibilidade de os patronos do programa de austeridade aplicado a Portugal admitirem alguma vez ter cometido erros de análise, logo agora......

Afinal, estando no horizonte a seis meses o termo do calendário de presença da troika, o Governo cumpriu mais uma etapa do seu papel de vincar o cenário de final do resgate, estribado num conjunto de números macroeconómicos favoráveis, embora ténues - e já agora na vontade da Europa se livrar de um problema para o qual também contribuiu em larga escala.

Havia alguma hipótese de Paulo Portas e Maria Luís Albuquerque escaparem à sonorização de um naipe de banalidades?

Era impossível.

O chamado pós-troika está muito longe de se assemelhar a uma reedição do 1 de dezembro de 1640, como tontamente hiperbolizou há dias Paulo Portas.

Para todos os efeitos, ignoram-se as condições constantes de um programa cautelar - de que a República da Irlanda fugiu a sete pés...- e a continuidade de políticas de austeridade é garantida.

Propagandear a intenção de uma margem de manobra desconhecida - ou inexistente - é do domínio da mera técnica comunicacional dispensável.

Para conferências de Imprensa balofas, antes as dos treinadores. No futebol, sempre se elogia o apoio dos adeptos.

Retirada daqui