quarta-feira, 20 de novembro de 2013

LIVRE

Assim, nem mais nem menos, se irá chamar o novo partido de que Rui Tavares, historiador e eurodeputado, é o promotor

Uma espécie de contradição nos termos: difícil será que não tenham alguma disciplina partidária.... A dissidência de Rui Tavares, que vem de Junho de 2011, teve como pretexto uma troca de acusações com Louçã mas, segundo os entendidos, tem motivações políticas mais fundas, coincidindo com o momento em que aquele partido se auto-exclui das conversações com a troika, já depois de ter votado ao lado da direita no derrube do governo de Sócrates. 

Em causa estaria o posicionamento do Bloco que alguns militantes gostariam de ver mais aberto à construção de uma alternativa de governo de esquerda o que passaria pela disponibilidade para um acordo com o PS e não pela aposta na sua desagregação. Com algum simplismo, mais coisa menos coisa, foi assim que um observador minimamente atento viu este processo.

Esgotada a sua agenda de propostas ditas fracturantes no âmbito dos usos e costumes, o BE perdeu muita da sua razão de ser: nos movimentos de massas, de contestação às políticas dos sucessivos governos, o PC tem uma vantagem competitiva enorme, forjada nos muitos anos de luta e numa disciplina partidária que as elites da pequena e média burguesia urbana, que constituem a base do Bloco, têm dificuldade em aceitar. 

Acantonado em termos de agenda, o que lhe retirou o charme mediático, e com um posicionamento "fora do sistema", coincidente com o do PC, o Bloco só tem passado. O seu definhamento eleitoral é disso expressão. Para quem contesta e protesta, o PC é uma aposta mais segura. 

Se não houver uma inflexão estratégica, ou mesmo havendo, não tardarão a surgir outras dissidências, tanto maiores quanto mais irrelevante o Bloco se torne. Uma espécie de regresso à origem, ao sectarismo dos grupelhos que o acesso à ribalta política e mediática calou, mas não erradicou.

Rui Tavares e mais uns tantos têm a aspiração de criar um movimento que viabilize um governo de esquerda, rompendo com a retórica sectária da "verdadeira esquerda", alimentada pelo PC, com o Bloco a reboque, em cujo putativo governo os socialistas não caberiam. Não sei se terá êxito. Se não quiser ser uma espécie de "Verdes" do PS, o teste há-de ser feito nas urnas. 

O desafio é difícil, em especial se o PS radicalizar a mensagem. Tudo depende das propostas, da inércia do eleitorado e, sobretudo, da abertura dos meios de comunicação social para, tal como na altura fizeram com o Bloco, amplificar a respectiva mensagem. 

Venha, ou não, a ser bem-sucedido, parece-me que algum impacto já teve: algumas das alterações do Orçamento, sugeridas pelos bloquistas, são mais moderadas e selectivas, chamando a atenção para temas que calam fundo no coração de todos, como o combate à pobreza infantil. Em conjunto com o combate à pobreza e abandono que atinge tantos idosos, hão-de ser uma prioridade da nossa sociedade, justificando um esforço redistributivo que não pode esperar pelo crescimento. 

Pena que, como sempre, o Bloco ache que tudo se resolve atirando dinheiro para cima do problema, mantendo uma visão administrativa e centralista que nada resolve sem o envolvimento das instituições que estão no terreno, desde as autarquias até às IPSS, a quem deveria competir a gestão dos fundos afectos àqueles objectivos.

2. A iniciativa de Rui Tavares levou-me a pensar que talvez houvesse espaço para algo parecido no centro do espectro político. Os aparelhos dos dois maiores partidos estão tomados por militantes formados nas escolas de sectarismo em que se transformaram as juventudes partidárias. Falando a mesma linguagem, poder-se-ia esperar que se entendessem. Pelo contrário. A ambição do poder tolda-lhes a tolerância, fazendo-os perder de vista os superiores interesses da Nação. 

Um movimento de "Homens Bons" que ambicionasse estabelecer pontes, assegurando a estabilidade governativa, tem viabilidade? O sucesso de Rui Moreira também passou por aí. Manuel Pizarro prova que nos partidos há muitos "Homens Bons" que, como é óbvio, os homens do aparelho detestam.

O autor escreve segundo a antiga ortografia

Retirada daqui