terça-feira, 19 de novembro de 2013

JÁ ESTAMOS EM 2015

A recuperação da nossa soberania, ou seja, o pós-troika, transformou-se numa autêntica charada política. 

Não por falta de perspetivas, mas porque as próximas eleições convidam os partidos do chamado arco da governação a acentuarem o passa-culpas, em vez de tentarem desenhar um mínimo denominador comum para a melhor saída possível do programa de ajuda financeira ainda em curso para os próximos sete meses.

Com tanto tempo ainda pela frente e tanta austeridade ainda para orçamentar e aplicar, ninguém certamente terá certezas sobre qual será a melhor fórmula para enfrentar o pós-troika e os mercados: se de peito aberto, como acaba de pré-formalizar a Irlanda [para descanso da senhora Merkel a contas com a sensibilidade do SPD, o seu parceiro da nova coligação de Governo, diga-se], ou se através de um programa cautelar sob a égide do Banco Central Europeu, como alvitraram já alguns árbitros do preço internacional do dinheiro, como a agência de notação financeira Standard & Poors ou o próprio Bank of America.

É seguramente este alto grau de incerteza que alimenta todas as posições, incluindo as que preparam com inusitada antecipação o combate político que há de inscrever-se no ciclo eleitoral da natural alternância em que o PS já se vê contemplado com uma nova confiança dos portugueses, enquanto PSD e CDS acreditam que saberão demonstrar que lhes coube arrumar uma casa que encontraram desgovernada.

Algumas intervenções projetam já essas eleições legislativas de 2015. Uma das últimas foi protagonizada por Paulo Portas, que nos veio esclarecer da sua posição, por sinal a mesma que a de Maria Luís Albuquerque, mas com uma formulação que daria um excelente slogan de campanha eleitoral: "Nem mais dinheiro, nem mais troika". Uma declaração do vice-primeiro-ministro devidamente acompanhada da promessa de tudo fazer para que o IRS dos portugueses baixe, justamente em 2015. Ou seja: após uma saída limpa para o pós-troika, como classificou a ministra das Finanças, o cenário de Portugal poder seguir as pisadas da Irlanda.

Acontece que, no próprio Governo e entre as forças políticas que lhe servem [ou deviam servir] de suporte, há quem não tenha tantas certezas sobre essa saída sem o apoio do BCE. Em relação ao qual António José Seguro já colocou a questão da discutível legitimidade de um tal programa poder prescindir do acordo do PS.

Estaríamos, então, no ponto em que a legitimidade do pós-troika com a ajuda do BCE imporia o grande consenso de todo o chamado arco da governação, o que redundaria numa vitória de grande mestre do xadrez político para o presidente da República.

Já estamos em 2015 e ainda não aprovamos o Orçamento para 2014.

Linda charada.

Retirada daqui