quinta-feira, 31 de outubro de 2013

TODAS AS GREVES


As greves estão na agenda de todos os que aderem, por meras razões ideológicas ou porque a austeridade é de tal modo que põe a fome na mesa de todos os dias ou mil dificuldades de sobrevivência

As greves são rio que não estanca, que tem uma foz mas nunca se sabe onde pode desaguar. As medidas de austeridade, inscritas no Orçamento do Estado para 2014, são o motivo desta vaga de contestação. Até os patrões alertam para os perigos. 

A própria SEDES (Associação para o Desenvolvimento Económico e Social) acaba de fazer um alerta muito sério e põe o dedo na ferida dos sucessivos falhanços e desencontros do governo, ao dizer que todas as semanas escutamos anúncios de medidas que abrem novas frentes e criam medo e incerteza” (…) “Já ninguém confia em quase nada prometido; isso é incompatível com uma saudável vivência democrática”.

Não se confia no governo, tão pouco na oposição, que não é séria, joga apenas nos seus interesses, tanto hoje como ontem e o povo parece acreditar nos vendedores de promessas e demagogias, nas soluções simplistas e irresponsáveis. 

O cardeal emérito, José Policarpo, falando na conferência “Caridade é a Fé em acção”, reportando-se à ligeireza de uns e à propositada ignorância de outros, teve a coragem de afirmar que a oposição fala, mas não apresenta soluções para as imensas dificuldades nacionais: “parece que ninguém sabe que Portugal está numa crise e dá a ideia de que todos reagem como se o Estado pudesse satisfazer as suas reivindicações”, quando não tem condições para fazê-lo. 

O governo só tem mês e meio de autonomia financeira, no caso do incumprimento das metas impostas pela Troika. Seria o descalabro total, não haveria dinheiro para pagar salários e pensões. Disse ainda que “se todos pusessem em primeiro lugar o bem comum e fizessem qualquer coisa que ajudasse a resolver o problema, estou convencido que isto nos custaria metade do preço e do sofrimento”. 

Mas para ajudar a engordar  a crise, aí está “a quinzena de luta”, centrada na catadupa de greves: Transportes (Metro de Lisboa, 31/10; Transtejo e Soflusa, 3/11); Refer, 6/11; CP, 7/11), empresas públicas, deficitárias, mas com administradores a ganhar ordenados principescos, que o povo paga, voltando às ruas no dia 9.  

Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 31 de Outubro de 2013