Antes de ler o texto que se segue, da autoria de Armando Pires da Silva e sob a forma de carta ao Director, talvez importa recordar este outro texto, sob a forma de alegoria, também publicado no 'Jornal da Bairrada' na sua edição de 11 de Julho deste ano, dia da inauguração das obras de requalificação do Parque do Carreiro Velho.
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Venho
hoje falar do parque do Carreiro Velho, recentemente inaugurado, a que o
Jornal da Bairrada de 18 de Julho fazia referência na primeira página,
como local de convívio e visita à natureza e na página 12 como o melhor
parque do distrito de Aveiro.
O parque do Carreiro Velho, agora inaugurado, já existe há cerca de 30 anos.
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Este parque foi o primeiro que a Junta F. de Oiã, em 1985 meteu mãos,
pois já havia um largo público onde a população do lugar tinha plantado
algumas árvores.
Feita uma reunião local com algumas pessoas de
Perrães, foi decidido plantar mais árvores, fazer uma sebe em cedros em
volta do terreno e do recinto do baile, que era usual fazer-se.
Um
pequeno auditório com casas de banho foi feito no 1.º ano e nos anos
seguintes o parque foi alargado com a aquisição de vários terrenos.
Todos
os anos foi melhorado, quer pela Junta, quer pela comissão do parque,
que fez bar e parque infantil. Mais tarde foi decidido fazer a ilha e
realizar lá o baile.
Foi refundado o cais das lanchas de pescar e a
zona em volta de toda a ilha, foram feitas ainda duas pontes para
atravessar para a mesma.
Em suma, o parque foi na verdade um local de convívio onde foram feitos muitos a nível local e até da freguesia.
Para
fazer o novo parque deitaram tudo abaixo o que para mim foi um erro,
cortar árvores com cerca de 30 anos eliminando a muita sombra que estas
faziam.
Melhorou aparentemente na qualidade, mas piorou na
utilidade, visitei-o aquando da construção e muitas vezes de dia e de
noite, depois da inauguração e tenho a dizer o seguinte:
- Fiquei triste quando decidi visitar todos os Parques da Freguesia.
No
último domingo de Julho, todos tinham pessoas só o do Carreiro Velho e
da Lagoa do Rêgo não, depois voltei a visitá-los várias vezes ao sábado e
ao domingo, nunca vi uma pessoa nas mesas do Carreiro Velho, algumas só
nos terrenos particulares à sombra das árvores existentes.
Gostava
de vir aqui louvar o que foi feito, mas tenho de dizer, se este é o
melhor parque do Distrito de Aveiro como foi dito é um dos melhores do
País, como disse o Sr. Presidente da Câmara, no seu discurso de
inauguração, mal está o nosso Distrito e País a nível de parques.
Este
parque não é o melhor só porque se gastou lá muito dinheiro, existem
bons parques no Concelho e nos Concelhos vizinhos, onde se gastou pouco
dinheiro e têm muita utilidade, enquanto que o do Carreiro Velho está a
servir para muito pouco, sendo esta a opinião de várias pessoas locais e
da Freguesia, que auscultei.
Antes da intervenção, tinha muitas mesas à sombra das árvores, agora tem muitas mesas ao sol.
Tinha
um bar que funcionava todos os dias, agora tem um lindo bar fechado sem
mesas nem cadeiras, que só funcionou no dia da inauguração.
Antes tinha casas de banho a funcionar, agora também tem, mas estão fechadas.
Em
vez de terem subido o nível do piso do parque, por causa das cheias,
baixaram-no, o que quer dizer que as 13 mesas de madeira, que já estão
um pouco empenadas com o calor, vão ficar debaixo de água.
Receio
que vão durar pouco e é caso para dizer, vai tudo por água abaixo, nem
técnicos, nem políticos viram que mais tarde ou mais cedo vai acontecer.
Tem
40 candeeiros, 60 lâmpadas a gastar, para iluminar quem ou o quê? Se
não deitassem as árvores abaixo, serviam para iluminar os pássaros que
dormiam nas mesmas, porque pessoas das vezes que o visitei à noite,
algumas nem uma.
Estou certo que nem o centro de Perrães, nem o da vila de Oiã têm tanta iluminação.
Das
árvores que foram plantadas, a maior parte está seca, foram mal
plantadas no areão e não foram cuidadas e devidamente regadas.
Já
que se gastou tanto dinheiro, não era de despender mais uns milhares e
plantar árvores já de porte para fazer alguma sombra às mesas,
valorizando um pouco o que lá está?
Semearam várias zonas de relva
mas nos dias de hoje sem um sistema de rega automático, esta está
praticamente toda seca, pois é regada à mão quando é.
Onde antes era o local das lanchas de pesca, fizeram um cais para gaivotas, mas nem na água nem no ar há gaivotas.
Não
fizeram o mais importante que é refundar o cais e em volta da ilha,
porque está praticamente assoreado, e o peixe que antes era em
abundância (dava para a pesca desportiva e para dar de comer a muita
gente e movimentava o parque e o bar), agora o peixe é muito pouco.
Aquilo
que antes era uma zona verde hoje é uma zona amarela, pois as ruas,
passeios e a maior parte do parque está tudo feito em areão amarelo, que
de ser tanto até cansa a vista.
Fizeram um miradouro que dá para
ver muito pouco, pois tem mesmo à sua frente várias árvores e arbustos
que não deixam ver a paisagem.
Qualquer pessoa que visite o parque
irá verificar que o passadiço junto ao bar é melhor para contemplar a
paisagem do que o próprio miradouro.
Nos dias de hoje não há
qualquer justificação para se gastar tanto dinheiro para servir para tão
pouco, talvez fosse melhor o que existia, feito com poucos escudos e
pelo povo com a colaboração da Junta.
Nos 9 parques da Freguesia
não se gastou uma décima parte do que gastaram no parque do Carreiro
Velho, o que realmente dá que pensar.
Já não basta sermos tão
poucos a trabalhar para tantos comerem e ainda temos os políticos a
gastarem dinheiro que considero mal gasto.
Para quem ainda
não o visitou, convido a visitá-lo, posso até não ter razão, mas falei
com várias pessoas que já o visitaram e partilham a mesma opinião que
eu.
Oiã, 3 de Setembro de 2013
Publicado no 'Jornal da Bairrada' de 3 de Outubro de 2013