Fazer negócios em Portugal virou modalidade olímpica: além de raro, exige aos
protagonistas elevados dotes atléticos para superar os obstáculos: sócios que se
detestam, processam, difamam - não se juntam nem em tempo de crise.
Reguladores
que esperam que a água passe devagar pela clepsidra para tomar alguma decisão,
até decisão nenhuma. Dinheiro também não há, o mercado foge, mingua, o medo e a
mesquinhez prevalecem. Não era este o texto que eu gostaria de escrever: a
crónica do fracasso anunciado. Há muita sordidez nisto tudo.
Ontem, a Portugal Telecom deixou de existir tal como a conhecíamos. Já
aconteceu a outras empresas. A Cimpor, antigo gigante mundial do cimento, é um
resto do que era e já não tem mão nacional. A EDP é cada vez mais chinesa. A REN
omanita e chinesa. Os CTT devem tornar-se brasileiros.
A TAP anda à procura de
noivo e não será português, apesar de o turismo ser das poucas atividades locais
que ainda rendem. A Soares da Costa também é angolana. O acionista de referência
do BCP é angolano, no BPI é espanhol e angolano. A Zon-Optimus idem, como a
Galp, embora Azevedo e Amorim façam as honras da casa. Tudo empresas de primeira
linha, tenores da atividade económica.
E depois há Zeinal Bava. Em apenas quatro meses, o tempo contado a partir do
momento em que se tornou CEO da Oi, fechou a fusão com a PT. Zeinal é dos que
fazem, fazem depressa, por isso tem agora o privilégio de gerir uma companhia
com cem milhões de clientes. A PT, como estava, não resistiria à sua nano
escala. As telecomunicações são um negócio planetário, mercado de escala,
investimento intensivo, inovação, concorrência, planeamento exaustivo. A
Vodafone é um bom exemplo: não comprou a Zon, perdeu o comboio, pagará caro o
desleixo.
A PT como a conhecíamos acabou - ainda bem. Quer dizer, se os donos locais
não conseguiram fazer dela o que está à vista de todos - navegar num mercado de
260 milhões de pessoas que falam, escrevem e consomem em português -, então o
melhor é este casamento atlântico com a Oi, mesmo ficando em minoria, mesmo
perdendo o centro de decisão para o Rio de Janeiro. De que servem os centros de
decisão nacional se promovem desperdício, nomeações partidárias e mediocridade?
Fomos enganados durante anos: negócios em-brulhados na bandeira das quinas que
na prática foram traições à pátria. Vão enganar o Camões.
A minha pátria é a minha língua, escreveu Pessoa, cantou Caetano. Não é a
lusofonia, ideia com fronteiras e dono. Os ingleses chamam-lhe Commonwealth -
riqueza comum -, a esta comunidade. É um olhar mais inclusivo. Este mês de
outubro faz um ano que a revista Monocle deu capa à nossa língua. "Porque
o Português é a nova linguagem do poder e do comércio." É isso que a fusão PT-Oi
tem, pode ter, de generoso. É um negócio, falado em português, aberto ao mundo.
O importante não é ter a empresa e o dinheiro - é o que se faz com ela, com ele,
com tamanha riqueza
André Macedo, aqui