No reino das árvores, as pessoas mandam muito.
Dizem até algumas árvores que as pessoas mandam demais. Pois se, para que as árvores cresçam, há que escorá-las, para que elas se desenvolvam, há que podá-las, para que elas ganhem força, há que regá-las, o que é que resta às árvores, o que é que lhes cabe fazerem sozinhas?
- Fazemos os frutos - dizem as árvores mais experientes. - As pessoas ainda não conseguem fazer peras, maçãs, laranjas, romãs, cerejas, ginjas, ameixas, sem nós.
- Mas, depois, as pessoas tiram-nos o que fizemos - dizia um limoeiro novo.
- E para que é que tu precisas dos limões, meu tolo? - replicava uma macieira com muitos anos de vida.
- Para enfeitar - respondia o limoeiro.
O dono do pomar estaria doente ou teria ido para fora, talvez desinteressado das árvores a que, noutros anos, dera toda a atenção.
Os frutos por colher pendiam dos ramos. Uns secaram. Outros caíram no chão, apodrecidos. Uma lástima.
Ainda se aquele pomar ficasse perto da estrada que leva à escola, talvez houvesse quem se tentasse e fizesse a colheita por sua conta? Mas, como ficava num sítio isolado e pouco acessível, ninguém deu pelo pomar ao abandono.
Vieram os pássaros. Vieram as lagartas. Vieram os insectos. Foi uma razia.
Depois, o terreno do pomar não teve quem o lavrasse. Cresceram as silvas e as ervas daninhas. Muitas árvores ganharam moléstia. Deram, quando deram, uns frutos murchos e raquíticos. Sem préstimo.
Quando, tempos depois, o pomar abandonado foi visitado por pessoas, metia dó.
O pequeno limoeiro, que, entretanto, crescera, olhava em volta e só via árvores secas.
- Uma ruína - diziam as pessoas. - Salvou-se o limoeiro, porque é árvore resistente, mas mesmo esse precisa de tratamento.
Acompanhado e tratado arribou. É, agora, um belo e perfumado limoeiro, que não se importa nada, mesmo nada, de dar os seus limões às pessoas que lhos pedem.