Era noite escura, mas ouviam-se ainda numa adega barulhos de
trabalho.
Já toda a aldeia jantava e via o jogo, mas naquela casa não.
Era mais uma casa igual a todas, das pessoas simples do
lugar.
Escapelava-se. Tratava-se do sumo da vindima. Fazia-se doce
a aproveitar a abundância de tomate e figos.
Espantei-me com aquilo.
Mas o homem, rijo nos seus 74 anos, falou-me em palavras do
tempo d’agora e pr’a amanhã. .
Disse-me:
– Enquanto me puder mexer não tenho medo da crise.
E eu não disse nada.
O barulho dos trabalhos de um homem honrado continuaram a
ouvir-se noite a dentro, a somar aos das televisões e sofás dos vizinhos.