sábado, 12 de outubro de 2013

CHUVA DE MAIO

ALGUEM PINTE LUZ NO HORIZONTE

Era noite escura, mas ouviam-se ainda numa adega barulhos de trabalho.

Já toda a aldeia jantava e via o jogo, mas naquela casa não.

Era mais uma casa igual a todas, das pessoas simples do lugar.

Escapelava-se. Tratava-se do sumo da vindima. Fazia-se doce a aproveitar a abundância de tomate e figos.

Espantei-me com aquilo.

Já não é deste tempo.

Mas o homem, rijo nos seus 74 anos, falou-me em palavras do tempo d’agora e pr’a amanhã. .

Disse-me:
– Enquanto me puder mexer não tenho medo da crise.

E eu não disse nada.

O barulho dos trabalhos de um homem honrado continuaram a ouvir-se noite a dentro, a somar aos das televisões e sofás dos vizinhos.
- Enquanto me puder mexer não tenho medo da crise! – Disse ele. E eu acreditei.