terça-feira, 10 de setembro de 2013

ERA UMA VEZ...

DUAS HISTÓRIAS

Eu estava na esplanada da praia a escrever uma história

Nada de especial. Era uma história que metia uma boneca, uma mona feita de trapos, com quem já ninguém brincava. 

Esquecida a um canto de uma casa há muito desabitada, a mona devia ter saudades do tempo em que era acarinhada por uma menina, a sua dona de outrora. Há quanto tempo... 


A menina devia ser, agora, uma velhinha. 

Nem a boneca conseguia sequer recordar-se do rosto dessa menina. Nunca mais tinham sabido uma da outra. 

A verdade é que estava só. Vontade de brincar não lhe faltava, mas com quem? 

Neste ponto da minha história, eu hesitei. Pedi outro café ao criado e olhei em volta. Na praia, muitos banhistas, mas na esplanada só eu e, numa mesa perto, uma jovem senhora a tricotar. 

Foi então que me surgiu uma ideia para continuar a minha história. Pus-me logo a escrever. 

A boneca solitária, feita de trapos, decidiu fabricar uma boneca igual a ela. Com que materiais? Com os seus próprios trapos. Ficaria mais magra, mais pequena, mas juntaria a ela uma companheira. 

Por sinal que, na casa desabitada, uma máquina de costura meio ferrugenta, mas ainda prestimosa, ofereceu os seus serviços. 
- Mãos à obra - exclamou a boneca de trapos, entusiasmada. 

Descoseu-se, esventrou-se, cortou, coseu, encheu e uma bonequinha parecida com ela começou a ganhar forma. Era um mona trangalhadanças, mas ia ser uma óptima companheira. 

A bonequinha ganhou forma, ganhou vida e eu estava quase no fim da minha história. Imaginei as duas bonecas a brincar uma com a outra, na tal casa desabitada, afinal habitada pela alegria. 

Era uma história simples. Histórias destas não custam nada e sabem bem, como um café com açúcar, bebido numa esplanada da praia. 

Na mesa perto da minha, a jovem senhora que tricotava também tinha completado a sua tarefa. Era um casaquinho de bebé. 

A jovem senhora apreciou, ternamente, a sua obra. Pareceu-me até que sorriu para o casaquinho. Não sei se já disse que a senhora ostentava um evidente volume de corpo de quem espera bebé, para breve... 

E aqui têm como, numa só história, cabem duas histórias. Ou muitas...

António Torrado e Cristina Malaquias, aqui