terça-feira, 17 de setembro de 2013

ERA UMA VEZ...

A LEBRE FELICIANA E O LOBO GLUTÃO
A lebre Feliciana estava a fazer um bolo, um bolo mesmo apetitoso, com erva-doce e outros preparos, que a gente não sabe, porque não conhece a receita

Destinava-se o bolo a uma festa que a lebre Feliciana ia dar, no dia seguinte, a outras lebres e coelhos seus vizinhos. 


Mas quem apareceu primeiro e sem ser convidado foi o lobo. 
- Vou-te comer - disse o lobo, que ia logo direito ao assunto. 

A lebre ainda tentou fugir à questão: 
- Ó senhor lobo, coma antes este lindo bolo, que eu guardei para vossa mercê. 
- Está bem - concordou o lobo. - Desta vez, começo pela sobremesa. 

E, em duas dentadas, comeu o bolo. 
- Agora, que já não tenho apetite, vou guardar-te para o jantar - disse o lobo, metendo a lebre num saco. 
Tenho visitas lá em casa, que hão-de apreciar este pitéu. 

Pôs o saco ao ombro e abalou. 
Como o caminho era longo e sempre a subir, o lobo, a certa altura, resolveu descansar à sombra de uma árvore. Adormeceu. 
Dentro do saco, a lebre pôs-se a vasculhar no avental que tinha posto para fazer o bolo e encontrou uma tesoura, uma agulha e um dedal. ?Espera, que já te arranjo, lobo lambão, glutão e paspalhão", murmurou a lebre. 

Com a tesoura abriu uma fenda no saco, depois foi buscar uma grande pedra, meteu-a no saco e com a agulha e o dedal voltou a fechar o saco. E fugiu. 

Quando o lobo acordou e lançou o saco aos ombros, achou-o muito pesado. 
- Está gordinha a lebre. Que rico jantar! - exclamou ele. 

Foi para casa, onde já estavam dois lobos amigos, e esfomeados. 
- Trago-vos uma surpresa - disse o lobo. - Ponham a água ao lume no caldeirão, que já vão saber. 

Quando a água estava a ferver, os lobos despejaram o saco na panela. A pedra caiu, fez saltar a água em volta e os lobos - Ai! Ai! Ai! - queimaram-se. 

Depois, os dois lobos visitantes, julgando que tinha sido uma partida armada pelo lobo dono da casa, atiraram-se a ele e desancaram-no. Ficou o lobo em muito mau estado. 
- Quem me mandou a mim meter-me com essa finória da lebre Feliciana - rematou o lobo, em jeito de conclusão desta história.

António Torrado e Cristina Malaquias, aqui