Era suposto estarmos em campanha autárquica. 
Mas estamos claramente em 
campanha, à la longue, para as legislativas. Nas ruas não se discutem as 
cidades, nem as regiões. E os futuros autarcas são figuras secundárias. Tudo 
está resumido a um confronto de líderes e a escrutínio à situação do País e às 
relações de e com a troika. 
Pode discutir-se se é positiva ou negativa a 
abordagem em curso, mas não há dúvidas de que terá consequências nos resultados 
finais. Pelas quais os protagonistas serão responsáveis. 
António José Seguro começou por mostrar fragilidade na sua ambição eleitoral, 
não se percebe ainda se por tática ou verdadeiro receio. Mas depois foi o 
primeiro a reagir aos efeitos que a leitura restritiva da Comissão Nacional de 
Eleições colocou às televisões e a aproveitar o "tapete vermelho". 
Cometeu dois 
erros infantis em Lisboa, ao falhar os momentos importantes da candidatura de 
António Costa. Viu o seu ambicioso adversário interno cavalgar politicamente 
essa sua ausência rodeado de figuras de todas as alas que formam o PS. Mas 
depois "arruou" ao seu lado e a partir daí nunca mais parou de fazer promessas 
de norte a sul, ainda que continue sem explicar onde irá buscar o dinheiro para 
as cumprir ou como vai convencer os nossos credores a ceder-lhe. 
Marco António Costa despiu a camisa de forças usada e recomendada no Governo 
e vestiu o fato de macaco do partido "copiando" o CDS. Simulou, para consumo 
interno, uma demarcação do PSD em relação ao FMI, aproveitando o rol sucessivo 
de contradições da instituição. E deixou para o seu antecessor, agora ministro, 
o papel de relações externas, marcadas pelo respeitinho pela troika. E essa, que 
até está por cá a assistir ao espetáculo, deve pensar que está perante um bando 
de loucos e responde à altura.
Não se discute uma rotunda, nem uma nova estrada, quanto mais a recuperação 
económica de uma cidade. Questiona-se apenas se será necessário um segundo 
resgaste e porque nos castigam os mercados com juros altos quando surgem os 
primeiros sinais de retoma. Além de se suplicarem umas décimas de flexibilização 
do défice.
Com uma campanha assim, o País que dia 29 vai a votos e que à frente 
só terá boletins com os símbolos dos partidos ou dos movimentos dos dissidentes 
- perdão, independentes - tenderá a referendar muito mais o País que a sua 
terra. E isso não é necessariamente bom.
Filomena Martins, aqui

