segunda-feira, 16 de setembro de 2013

A INDÚSTRIA DOS FOGOS


A guerra dos fogos pôs de luto os bombeiros e o governo deveria decretá-lo por tantos dias quantos os mortos (oito), tudo gente jovem, na flor da idade e dos sonhos, alguns com casamentos marcados e outros com filhos de tenra idade

Os bombeiros mereciam esse respeito. E o respeito começa pela prevenção atempada, com o exército em operações de fiscalização; com o exército dos cidadãos com rendimento mínimo de inserção na limpeza dos matos, a aproveitar para combustível; com uma moldura penal mais rigorosa. A nossa Justiça é muito benevolente para este tipo de crime. 

As penas deveriam ser exemplares. Esperança da reabilitação? No ano seguinte, lá voltam à guerra. Entre 2007 e 2011, houve um total de 280 condenações. Destes apenas 14 (6%) foram mandados para a cadeia; quase metade ficou com prisão suspensa, uma beleza. Dos casos de negligência real não há conhecimento de uma só condenação, mesmo quando há vítimas. Como na política pelintra em geral, que também ateia outros fogos e faz uma gestão negligente ou danosa. 

António Carvalho, coordenador da investigação criminal da PJ aposentado, disse ao Público que “normalmente o Ministério Público olha para as negligências como acidente”. Desta visão sofre também a ministra da justiça que afirmou que “as penas já são elevadas” e que não é na justiça que está a solução, mas na prevenção. Mas afinal quem está interessado em ambas? 

Mas o que mais espanta é uma afirmação do insuspeito jornalista José Gomes Ferreira: “o país está a arder porque alguém quer que ele arda.” Julguei que já tivesse passado a certeza de que, há anos, havia avionetas a largar balonas de fogo. Quanto mais fogos, mais cannadairs em acção, mais trabalho e mais dinheiro. O combate aéreo é concessionado a empresas privadas, interessadas nos lucros, que vêm dos fogos, quando deveria ser o Estado a possuir esses meios. Um submarino tinha dado para isso. 

Já nem vamos falar de outros interesses económicos: o pastor interessado em renovar pastos (serão este fogos negligentes?), construção de casas em áreas anteriormente ardidas, um ou outro madeireiro sem escrúpulos. Na verdade, ainda há “uma indústria dos incêndios em Portugal, cujos agentes não obedecem a uma organização comum, mas têm o mesmo objectivo, destruir floresta, porque beneficiam com este tipo de crime”.

Afinal, que país de bons costumes é este?

Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 12 de Setembro de 2013