A guerra dos fogos pôs de
luto os bombeiros e o governo deveria decretá-lo por tantos dias quantos os
mortos (oito), tudo gente jovem, na flor da idade e dos sonhos, alguns com
casamentos marcados e outros com filhos de tenra idade.
Os bombeiros mereciam
esse respeito. E o respeito começa pela prevenção atempada, com o exército em
operações de fiscalização; com o exército dos cidadãos com rendimento mínimo de
inserção na limpeza dos matos, a aproveitar para combustível; com uma moldura
penal mais rigorosa. A nossa Justiça é muito benevolente para este tipo de
crime.
As penas deveriam ser exemplares. Esperança da reabilitação? No ano
seguinte, lá voltam à guerra. Entre 2007 e 2011, houve um total de 280
condenações. Destes apenas 14 (6%) foram mandados para a cadeia; quase metade
ficou com prisão suspensa, uma beleza. Dos casos de negligência real não há
conhecimento de uma só condenação, mesmo quando há vítimas. Como na política
pelintra em geral, que também ateia outros fogos e faz uma gestão negligente ou
danosa.
António Carvalho, coordenador da investigação criminal da PJ
aposentado, disse ao Público que “normalmente o Ministério Público olha para as
negligências como acidente”. Desta visão sofre também a ministra da justiça que
afirmou que “as penas já são elevadas” e que não é na justiça que está a
solução, mas na prevenção. Mas afinal quem está interessado em ambas?
Mas o que
mais espanta é uma afirmação do insuspeito jornalista José Gomes Ferreira: “o
país está a arder porque alguém quer que ele arda.” Julguei que já tivesse
passado a certeza de que, há anos, havia avionetas a largar balonas de fogo. Quanto
mais fogos, mais cannadairs em acção, mais trabalho e mais dinheiro. O combate
aéreo é concessionado a empresas privadas, interessadas nos lucros, que vêm dos
fogos, quando deveria ser o Estado a possuir esses meios. Um submarino tinha
dado para isso.
Já nem vamos falar de outros interesses económicos: o pastor
interessado em renovar pastos (serão este fogos negligentes?), construção de
casas em áreas anteriormente ardidas, um ou outro madeireiro sem escrúpulos. Na
verdade, ainda há “uma indústria dos incêndios em Portugal, cujos agentes não
obedecem a uma organização comum, mas têm o mesmo objectivo, destruir floresta,
porque beneficiam com este tipo de crime”.
Afinal, que país de bons
costumes é este?
Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 12 de Setembro de 2013