quinta-feira, 8 de agosto de 2013

SONHOS DE QUEM LÊ

Ler pressupõe silêncio, recato, isolamento e reflexão...  hoje, os meios audiovisuais exigem toda a atenção dos nossos sentidos e, quais cataratas de imagens e sons, não deixam tempo nem espaço para o pensar.

O pensamento, dizem-nos, é tanto melhor quanto mais abreviado, condensado e resumido. Mas quem vive sem produzir os seus próprios significados e valores, vive às escuras, porque não lhe é dado ver e orientar-se pelas estrelas que existem no fundo de si mesmo.


A ansiedade nasce e alimenta-se de quem, sem ter a coragem de pensar por si próprio, abraça medos que interessam a outros... faz-se escravo quem se demite de pensar; quem se entrega a temores; quem permite que outros lhe conduzam os passos.

A vida profunda é sentir refletido. Os livros, cujo motor é a alma de quem os lê, respeitam a especificidade de cada leitor. A distância aos factos promove uma maior compreensão. Não são histórias de outros, mas a nossa, ali.

Uma vida vale mais que qualquer livro. Um beijo verdadeiro vale mais que mil romances. Mas, só a um espírito educado e ágil é possível sentir a vida em toda a sua profundidade.

Os caminhos de quem escreve não são os de quem lê. As vidas são sempre diferentes, assemelhando-se nas bases, nas profundidades do ser... um bom livro é uma crónica dessas fossas abissais... passando a quem o lê pistas essenciais à descoberta das paisagens remotas que são comuns a todos os homens.

Ler é uma porta para nós mesmos, um desafio ao pensar, porque os autores criam sempre com os sonhos de quem lê.

José Luís Nunes Martins, aqui