sábado, 10 de agosto de 2013

LIÇÕES VIVAS


O papa Francisco no encontro mundial dos jovens, fermento para a mudança, não falou só para eles, mas fez do Brasil o púlpito do mundo

Mesmo quando visitou favelas, toxicodependentes e reclusos ou celebrou a alegria e o amor a Cristo na praia de Copacabana, por toda a parte. 

Falou para o mundo e também para dentro da igreja, com pecados de mundanidade e carreirismo; sobre as “intoleráveis desigualdades”, sociais e económicas, que fazem este mundo cão. 


Visitando um hospital onde ouviu testemunhos de toxicodependentes, mostrou que é contra esta modalidade da cultura da morte, o narcotráfico e a legalização das drogas, para o que é necessária muita coragem, mexe com um dos piores submundos. Viagem coincidente com manifestações e distúrbios no Brasil, pronunciou duas palavras-chave, diálogo e esperança, “diálogo de amigos” e a obrigação dos católicos proclamarem a esperança, como caminho para um mundo melhor. 

Aos políticos do Brasil e do mundo (e aqui estamos nós portugueses), apresentou como soluções para os problemas sociais “o diálogo construtivo”, contra “a indiferença egoísta” [dos políticos] e “o protesto violento”. E deu conta desta realidade: os jovens “perderam a confiança nas instituições políticas, por verem egoísmo e corrupção ou perderam a Fé na igreja, e mesmo em Deus, pela incoerência dos cristãos e dos ministros do Evangelho”.

Para o papa Francisco, a Fé é sinónimo de revolução que é preciso levar às periferias das grandes cidades e do mundo, onde vivem os mais pobres e desprotegidos, os marginalizados. E pediu aos jovens para serem revolucionários, neste sentido, transportadores do fogo da Fé e do amor a Cristo, através do amor aos outros, construtores de um novo mundo de valores perenes.

Já dentro do avião, de regresso, em conversa com os jornalistas, o papa foi igual a si mesmo. Ele que tem um grande objectivo, reformar a Cúria Romana, por vezes centro de escândalos (banco, o lóbi gay, subtracção de documentos), disse a propósito: “Há santos na Cúria, mas também há alguns que não assim tão santos e estes são os que fazem mais barulho”. Quanto aos homossexuais, não consegue condená-los: “se uma pessoa é gay e procura o Senhor de boa fé, quem sou eu para julgar?”. Defende a integração, não a marginalização. Quanto à ordenação das mulheres, é que fechou a porta.

Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 8 de Agosto de 2013